"O que você vê na superfície nem sempre é o que está por baixo", comentou Rei Kawakubo sobre sua coleção de outono de 2006, modelada aqui por Lisa Cant, Sasha Pivovarova e Gemma Ward (da esquerda para a direita). A fotografia foi tirada por Irving Penn para a Vogue em setembro de 2006.

Há um século hoje, a Universal Pictures lançou O Fantasma da Ópera, um filme mudo baseado no romance gótico de 1910 de Gaston Leroux. Um jornalista da época resumiu a trama: "Conta sobre um ser misterioso das sombras, abençoado com talentos divinos, mas amaldiçoado com um rosto monstruoso, cuja alma distorcida escolhe uma jovem cantora de ópera para acertar uma conta que ele sente que o mundo lhe deve." Ele era uma alma atormentada com feridas maternas, escondendo um rosto que sua mãe rejeitou atrás de uma máscara. Em troca de conceder uma voz dourada a uma soprano, ele exigiu seu amor.

Lon Chaney, que interpretou o Fantasma Erik, criou sua própria maquiagem esquelética para o papel.

Esta história foi reinterpretada em várias plataformas—palco, tela e até mesmo na moda. Para mim, o título sempre me faz lembrar da coleção de outono de 2006 da Comme des Garçons de Rei Kawakubo. O desfile foi realizado sob os grandes candelabros da Sorbonne, ao som da ária de Verdi "La Donna è Mobile" ("A Mulher é Volúvel"). A volubilidade é um rótulo frequentemente atribuído ao mundo da moda, mas Kawakubo abraça a mudança, usando-a estrategicamente para desafiar o establishment. Nesta coleção, a batalha dos sexos se desenrolou não em uma casa de ópera, mas dentro das peças individuais, onde elementos masculinos e femininos colidiam em vez de harmonizar.

A Sorbonne, iluminada por candelabros cintilantes, forneceu o pano de fundo para o desfile.

Um dos temas principais de Kawakubo naquela temporada, como observado por Sarah Mower, foi o conceito de persona—o contraste entre a aparência exterior e a realidade interior, ou autoapresentação. Mower descreveu a coleção como "uma exploração poderosa da masculinidade e da feminilidade, e do drama diário de se vestir". Kawakubo desconstruiu e reinventou combinações de dele e dela: um espartilho integrado a uma jaqueta de terno, vestidos sobrepostos a jaquetas, tecido revelado através de fendas, e caudas presas a calças que apresentavam uma frente masculina e uma traseira feminina. Algumas peças tinham um toque shakespeariano (como o Look 10) ou um toque de flamenco. Era tudo sobre drama, ela disse.

Cada look apresentava sapatos de estilo masculino e elaborados adereços de cabeça de Julien d’Ys, colaborador frequente de Kawakubo. Fedoras eram combinadas com máscaras amarradas ao redor da cabeça, redes cobriam os rostos até a boca, e boinas eram cortadas. Alguns chapéus eram adornados com flores, outros com espirais de fitas plissadas. Os mais fantasmagóricos eram as meias-máscaras, algumas com perfis surreais, todas enfatizando os olhos.

Lon Chaney apareceu no filme de 1925 O Fantasma da Ópera, enquanto as máscaras de Julien d’Ys para a Comme des Garçons ecoavam o misticismo do Fantasma na coleção de 2006. Claude Rains e Gerard Butler também interpretaram o Fantasma em adaptações cinematográficas posteriores.

Na edição de setembro de 2006 da Vogue, que apresentava designers japoneses desafiando o status quo, a designer da Comme des Garçons, Rei Kawakubo, compartilhou com Mower: "Desde o início, não se tratava apenas de criar roupas. Eu pretendia construir uma empresa que espelhasse meus valores internos, pois buscava independência e liberdade de financiadores."

Kawakubo nos incentiva a perceber e interagir com o mundo de maneiras não convencionais. Em um campo frequentemente preocupado com aparências, ela cria roupas belas, mas inquietas. Sua estrutura única vem de sua profunda introspecção, resultando em peças que parecem incorporar suas próprias emoções e convicções, dando-lhes uma qualidade assustadoramente bela. Nesta temporada, seu tema era claro: máscaras podem alterar sua aparência, mas não podem mudar seu verdadeiro eu.

Comme des Garçons, coleção de pronto-a-vestir outono 2006.

Perguntas Frequentes
Claro. Aqui está uma lista de FAQs sobre a icônica coleção de Outono 2006 da Comme des Garçons, frequentemente chamada de coleção Lilith ou Balão.



Perguntas Gerais / Para Iniciantes



P: O que havia de tão especial na coleção de Outono 2006 da Comme des Garçons?

R: Foi um desfile inovador onde Rei Kawakubo desafiou a silhueta tradicional da roupa. As modelos usavam formas enormes, distorcidas e infladas que obscureciam completamente o corpo, transformando a moda em arte usável.



P: Qual é o nome oficial desta coleção?

R: O nome oficial é Comme des Garçons Ready-to-Wear Outono/Inverno 2006. É frequentemente apelidada de coleção Lilith ou Balão por fãs e críticos.



P: Quem a desenhou?

R: Foi desenhada por Rei Kawakubo, a lendária fundadora e diretora criativa da Comme des Garçons.



P: Por que as pessoas ainda falam sobre ela hoje?

R: É considerada um momento pivotal na moda do século XXI. Não era sobre ser bonita ou lisonjeira; era uma declaração artística radical sobre forma, volume e o propósito da roupa, que continua a inspirar designers e artistas.



O Design e o Conceito



P: Qual foi a principal inspiração ou conceito por trás da coleção?

R: Rei Kawakubo afirmou que o tema não era uma peça de roupa. Ela estava explorando o espaço entre o corpo e a própria roupa, criando formas esculturais abstratas.



P: Quais foram os elementos-chave do design?

R: Os elementos-chave foram volume extremo, formas acolchoadas e infladas, assimetria e uma paleta de cores monocromática. A forma humana estava quase completamente escondida.



P: As roupas eram realmente usáveis no dia a dia?

R: Na sua maioria, não. As peças da passarela eram expressões artísticas extremas. No entanto, as ideias e conceitos desta coleção foram filtrados para peças mais usáveis, mas ainda assim avant-garde, vendidas nas lojas da Comme des Garçons.



P: Que materiais foram usados para criar aquelas formas grandes?

R: As formas infladas, semelhantes a balões, eram frequentemente criadas usando acolchoamento, quilting e materiais sintéticos leves recheados com penas ou enchimento sintético, estruturados sobre armações internas.



Impacto e Legado



P: Como a coleção foi recebida pelos críticos na época?

R: Recebeu reações polarizadas.