Sadie Sink não frequentou o ensino médio da maneira tradicional. Embora tenha passado algum tempo em uma sala de aula antes de seguir a carreira de atriz, a maior parte de sua educação aconteceu nos sets de filmagem—seja entre peças da Broadway (ela estrelou como Annie de 2012 a 2014 e interpretou a jovem Rainha Elizabeth II em The Audience em 2015) ou durante as pausas de Stranger Things, a série de sucesso da Netflix que ela integrou em 2016, onde lutava contra monstros. Ela também apareceu em The Whale, de Darren Aronofsky, e protagonizou o curta-metragem All Too Well, de Taylor Swift.
Agora, aos 23 anos, Sink está de volta à Broadway em John Proctor Is the Villain, mergulhando novamente em um ambiente escolar—desta vez, em uma pequena cidade da Geórgia, nos Apalaches, em 2018. A peça explora temas como amor juvenil, amadurecimento e escândalo, com os alunos lendo The Crucible durante o movimento #MeToo. Escrita por Kimberly Belflower e dirigida por Danya Taymor, a produção traz uma trilha sonora que remete a Lorde e Taylor Swift.
No início, Sink temeu não se identificar com sua personagem, Shelby Holcomb, já que sua própria experiência no ensino médio foi atípica. Mas logo percebeu que compartilhavam algo mais profundo: a sensação de ter crescido rápido demais. "Shelby é uma adolescente que sente que perdeu essa experiência", diz Sink.
Sem dar muitos spoilers, Shelby se envolve no drama central da peça quando rumores de violência sexual se espalham pela cidade, forçando-a e seus colegas a confrontar dinâmicas de poder e misoginia sistêmica. O papel rendeu a Sink sua primeira indicação ao Tony, uma das sete da produção.
Antes do 78º Tony Awards, Sink conversou com a Vogue sobre seu retorno à Broadway, a música que marcou sua adolescência e a despedida de Stranger Things.
Vogue: Como tem sido voltar à Broadway nesta temporada?
Sadie Sink: Eu adorei. Comecei na Broadway, mas a maior parte da minha carreira foi no cinema e na TV desde criança. Você se acostuma com aquela rotina—alguns dias trabalha uma vez por semana, outros todos os dias. Aqui, me apresentar todas as noites tem sido reconfortante. Por mais exigente que a peça seja, tem sido uma experiência inestimável.
Vogue: Deve permitir que você mergulhe de verdade na sua personagem.
Sadie Sink: Eu estava nervosa com isso. No cinema, você dá tudo em algumas tomadas, e pronto. Não sabia se conseguiria manter essa conexão noite após noite. Mas o papel só ficou mais rico a cada apresentação, o que foi muito revelador.
Vogue: O que mais chamou sua atenção ao ler a peça pela primeira vez?
Sadie Sink: Nunca tinha lido algo que capturasse tão bem a essência de ser uma adolescente—pelo menos para mim, e aparentemente para muitas pessoas. Não as subestimava nem as tornava excessivamente maduras—as encontrava exatamente onde estavam. Me conectei profundamente com a escrita de Kimberly Belflower.
(Foto: Julieta Cervantes)A escrita e as vozes distintas dadas a cada uma dessas garotas bem construídas realmente me impressionaram. Minha primeira reação foi que nunca tinha visto nada assim no palco—especialmente na Broadway.
Você se identifica com Shelby de alguma forma?
Sim. Brincamos muito sobre qual personagem representa seu sol, lua e ascendente em John Proctor Is the Villain. As nuances de Shelby e o peso que ela carrega me fascinaram. Pareceu um desafio guardar tanto dentro de si—deixando o público no escuro na primeira metade da peça. É desconfortável, mas é isso que torna sua jornada única. Ela é madura para a idade por causa do que passou, e me identifiquei com isso à minha maneira. Ela é uma adolescente que nunca pôde realmente ser uma.
Tem uma fala na cena do posto de gasolina que me marcou muito quando li pela primeira vez: "Acho que provavelmente vou ficar muito ferida por um bom tempo, mas não sei se estou totalmente preparada para começar essa jornada agora." Ela sabe que ainda não tem perspectiva para entender o que está vivendo, mas reconhece que um dia terá. Isso ficou comigo.
A peça aborda temas pesados, mas também captura lindamente a adolescência feminina e as amizades entre mulheres. Pareceu fiel à experiência de amadurecimento?
Durante os ensaios, eu pensava muito na minha própria época de colégio. Não tive uma experiência típica—a maior parte foi nos sets. Isso até me ajudou a entender Shelby, que se sente uma adolescente, mas também como se já fosse adulta. Não importa como foram os anos de adolescência de alguém, essa peça captura a raiva, a catarse, a frustração de não ser ouvida—todos esses sentimentos universais da juventude e da vida adulta das mulheres.
Um artigo recente do New York Times tinha o título "Por que mulheres estão saindo desta peça da Broadway em lágrimas." O que você acha dessa reação?
É lindo e dolorido. A peça faz as pessoas refletirem sobre suas próprias vidas, especialmente experiências que existem naquela área cinzenta que a história explora. Muitas mulheres se identificam—amigas que assistiram tiveram reações emocionais parecidas. Ela gera conversas importantes e faz as pessoas se sentirem vistas.
O timing é assustador. Kimberly escreveu isso anos atrás sob um certo governo, e agora estamos encenando sob o mesmo novamente. É sombrio, mas parece um presente contar essa história agora.
O que você espera que o público leve da peça?
Adoro quando as pessoas saem com raiva—eu definitivamente sinto essa raiva ao longo da peça. Mas, no final, espero que também encontrem esperança na amizade de Shelby e Raelynn. É um lembrete das conexões que nos sustentam e do poder de nos apoiarmos. Essas garotas mudam seu mundo, mesmo que só pelo tempo de uma música.
Naquela idade, você é tão moldada pelo que está ao seu redor. Teve algum livro... (A pergunta foi cortada, mas parece ser sobre mídias influentes na adolescência.)A música certamente teve um papel enorme para mim. É incrível como uma música pode te levar de volta a um momento específico da vida. Naquela época, eu curtia coisas nerds—principalmente trilhas de musicais, claro. Mas foram Lorde e Lana Del Rey que me ajudaram a passar pelo colégio.
Aquela cena com "Green Light" é tão poderosa. Eu ia perguntar—você é fã da Lorde?
Meu Deus, sim, sou super fã da Lorde! Estou tão animada para o novo álbum dela. Solar Power foi muito importante para mim. Acompanhar um artista em todas as suas fases... ela foi essa pessoa para mim.
(Foto de Sadie Sink como Max Mayfield com Millie Bobby Brown como Eleven em Stranger Things Temporada 4, cortesia da Netflix.)
Você terminou de filmar a última temporada de Stranger Things antes da peça, e a série foi uma parte tão grande da sua vida. Como é ver ela chegando ao fim, e o que podemos esperar nesta temporada?
Foi super emocionante, e nos pegou de surpresa. Sabíamos que estava acabando durante as filmagens, mas quando realmente terminou, foi pesado. Muita gente não tem esse momento definitivo de se despedir da infância. Encerrar a série foi como dizer adeus à história, às pessoas, a todo aquele ambiente—mas o que mais doeu foi saber que estávamos nos despedindo do que nos formou, desses personagens e dessas pessoas. Foi avassalador.
Ainda não vi esta temporada, então não sei o que esperar. Mas sei que será emocionante da mesma forma que foi para nós. Muita gente cresceu junto com a gente, então tenho certeza que será emocionante para eles também.
Olhando para frente, que tipo de projetos você quer fazer? Tem algum novo objetivo para a carreira ou vida pessoal?
Geralmente vou no fluxo, mas agora, fazer algo como essa peça parece tão importante. É trabalho duro, mas é significativo. Me sinto muito sortuda nesse sentido. Quero mais disso—seja teatro (que adoraria fazer de novo) ou outra coisa. Percebi o quanto é importante se manter conectada ao ofício e se desafiar. Nos últimos meses, me senti mais em sintonia comigo mesma como atriz do que há muito tempo. Quero continuar buscando essa sensação.
(Esta conversa foi editada e condensada.)