"Acho que, na maior parte do tempo, estamos observando pessoas lidando com circunstâncias extraordinárias", diz o diretor Craig Baldwin aos atores reunidos em um espaço de ensaio no centro de Nova York.
É uma tarde de domingo excepcionalmente quente em meados de outubro, e o grupo se reuniu para seu ensaio final de Ricardo II antes de seguir para a semana técnica no Astor Place Theatre. Depois de percorrer o espetáculo sem roteiros, eles trocaram de roupas para peças mais confortáveis e agora estão sentados na parte da sala marcada como "lado direito do palco", segurando seus roteiros e cadernos, ansiosos para ouvir mais de seu diretor.
"O elemento humano da peça é que vemos como todas essas pessoas diferentes reagem enquanto seu país desmorona", continua Baldwin. "Que escolhas as pessoas fazem? Quem está tentando derrubar o país e quem está tentando reconstruí-lo?"
Apenas um dia antes, o massivo protesto "No Kings" de Nova York havia marchado pela avenida logo do lado de fora do prédio, dando uma relevância assustadora a esta peça escrita há mais de quatrocentos anos. Aqui nesta sala, um rei está desesperadamente agarrado ao poder.
Ricardo II não é uma peça que o público em geral, especialmente os americanos, conheça bem. Como a primeira obra da série Henriad de Shakespeare, ela retrata os eventos que levaram à turbulenta guerra civil multigeracional da Inglaterra. No centro da história está o Rei Ricardo — interpretado por Michael Urie nesta produção — que exila seu primo Henrique Bolingbroke (Grantham Coleman), confisca terras nobres, impõe impostos impopulares e torna-se profundamente impopular devido à sua má gestão dos recursos do reino. Por fim, derrubado e preso por Bolingbroke, Ricardo — alerta de spoiler! — é assassinado em sua cela.
A abordagem óbvia seria retratar Ricardo como distante e infantil; ele tinha apenas dez anos quando se tornou rei, afinal. Mas esta produção "enfatiza como é difícil ser rei", Urie me diz. (Ele e Baldwin têm uma longa história: estiveram com um ano de diferença na Juilliard e, mais recentemente, Baldwin dirigiu Urie na produção de Hamlet de 2019 da Shakespeare Theater Company.) O Ricardo de Urie, embora arrogante e às vezes condescendente, também consegue conquistar alguma simpatia.
Quando a peça foi encenada pela última vez em Nova York em 2006 (uma produção do Public Theater planejada para o Delacorte em 2020 acabou se tornando um drama de rádio), Baldwin estava no elenco. (Em sua resenha para o New Yorker, Hilton Als descreveu a atuação de Baldwin como Thomas Mowbray como "cativante"). Ambientada em tempos vagamente modernos, a produção lhe pareceu um suculento drama político. "Esta é a história de um país sendo dilacerado por amargas lutas de poder entre as famílias ricas que o controlam", diz Baldwin. "Em minha mente, parecia um psicodrama cinematográfico, semelhante a Succession."
Para sua própria adaptação, Baldwin ambientou a peça na Manhattan dos anos 1980 e reorganizou parte do texto para que, quando encontramos Ricardo pela primeira vez, ele esteja relembrando eventos recentes de sua cela na prisão.
"Perguntei a mim mesmo: qual foi o prelúdio de nossa atual era de divisão, ganância e violência americana?" diz Baldwin. Essa pergunta o levou aos anos 1980, impulsionados pelos tabloides e pelo "A Ganância é Boa": "Reaganomics, materialismo, excesso e privatização agressiva." Ele também tornou Ricardo explicitamente queer, com sua comunidade ameaçada pela iminente crise da AIDS.
"De certa forma, Ricardo criou seu paraíso perfeito com esta família escolhida queer, governando um reino e tendo tudo de que precisam", explica Urie. "E então tudo lhe é tirado."
Alguns anos atrás de Urie e Baldwin na Juilliard estava Pascal, que está fazendo sua estreia off-Broadway. Impressionantemente bonita, ela se move sem esforço pela sala, às vezes pavoneando-se pelo "palco" demarcado de salto alto (apenas duas semanas antes, ela fazia algo muito parecido na passarela da primavera de 2026 da Chanel) e, outras vezes, afetuosamente apoiando a cabeça no ombro de um colega ator.
Pascal e Ryan Spahn em "Ricardo II".
Foto: Carol Rosegg
Ela sempre foi admiradora de Urie e fala muito bem de seu talento. "É tão fácil dividir o palco com ele", diz ela. "Ele é tão curioso e aberto quanto eu."
Nascida na Califórnia, mas criada principalmente no Chile, Pascal — irmã mais nova do ator Pedro Pascal, com quem já desfilou em vários tapetes vermelhos — só tinha visto adaptações para a tela e versões em espanhol de Shakespeare antes de frequentar a Juilliard. "Fiquei muito intimidada. Me senti isolada ao ler e estudar sua obra", ela diz sobre Shakespeare. "Mas então percebi que é quase uma linguagem própria. Uma vez que sua voz e corpo entram nessa linguagem, você se torna parte deste mundo teatral e literário. Foi preciso me imergir verdadeiramente nela para me apaixonar pela linguagem."
Enquanto se preparava para seu papel como a rainha em "Ricardo II", Pascal tem refletido sobre sua experiência interpretando Gertrude em uma produção de "Hamlet" na Juilliard. Como Gertrude, a rainha detém um poder significativo silenciosamente. "Ela está na mente de todos, sabe? Ela é uma personagem principal, mas não fala muito", observa Pascal. "É tão rico e complexo, e tão contraditório e doloroso estar nesta posição de autodúvida, ter instintos, mas ter que silenciá-los."
Para Pascal, esta produção de "Ricardo II" fala volumes para a era atual. "Esta peça nos lembrará das perguntas que todos estamos fazendo. Qual é o propósito da existência quando há tanta violência e caos? E qual é a verdade? É uma peça muito existencial — e estamos vivendo em tempos verdadeiramente existenciais."
"Ricardo II" está agora em prévias, com a noite de abertura marcada para 10 de novembro.
Perguntas Frequentes
Claro! Aqui está uma lista de Perguntas Frequentes sobre a produção de Ricardo II de Michael Urie e Lux Pascal, projetada para ser útil tanto para iniciantes quanto para frequentadores de teatro experientes.
**Perguntas Gerais / Para Iniciantes**
1. **Quem está estrelando esta nova produção de Ricardo II?**
* Esta produção é estrelada por Michael Urie como o Rei Ricardo II e Lux Pascal em um papel de apoio fundamental.
2. **Não conheço a peça. Sobre o que é Ricardo II?**
* É uma peça histórica de Shakespeare sobre um rei inglês, Ricardo II, que é deposto por seu primo Henrique Bolingbroke. A história explora temas de poder, identidade, liderança e o direito divino dos reis.
3. **Por que esta produção é descrita como profundamente pessoal?**
* Tanto Michael Urie quanto Lux Pascal estão trazendo suas identidades e experiências pessoais únicas para o centro do palco. Urie é um proeminente ator gay e Pascal é uma atriz transgênero, permitindo-lhes explorar os temas da peça sobre identidade e vulnerabilidade de uma maneira nova e autêntica.
4. **O que significa "perfeitamente oportuna para os dias de hoje"?**
* O conflito central da peça — questionar a legitimidade de um governante, debater a identidade nacional e explorar a fluidez do poder e do eu — espelha diretamente muitas discussões políticas e sociais contemporâneas que estão acontecendo agora.
5. **Onde e quando esta produção está sendo apresentada?**
* *Exemplo de Resposta:* Está sendo apresentada no The Classic Stage Company, na cidade de Nova York, de [data] a [data].
**Perguntas Aprofundadas / Avançadas**
6. **Como o envolvimento de Lux Pascal torna esta produção única?**
* Lux Pascal, uma talentosa atriz transgênero, traz uma perspectiva poderosa e cheia de nuances para a corte de Ricardo II. Sua presença e performance desafiam inerentemente as normas de gênero tradicionais no teatro clássico, acrescentando camadas de significado aos temas de lealdade, identidade e performance.
7. **Qual é a conexão de Michael Urie com Shakespeare?**
* Embora amplamente conhecido por papéis cômicos em séries como *Ugly Betty*, Urie é um ator de teatro treinado classicamente com significativa experiência shakespeariana, o que lhe permite trazer tanto habilidade técnica quanto profundidade emocional para o complexo papel de Ricardo.
8. **Quais temas específicos de Ricardo II são mais relevantes para um público moderno?**
* Os temas-chave incluem:
* A natureza fluida e contestada do poder legítimo.
* A construção da identidade sob pressão extrema.
* As consequências da má governança e do egoísmo da elite.
* A relação entre o governante e o governado.
* A luta pela reconstrução de uma nação dividida.
