Identificar o momento exato do meu despertar gay não é fácil — a maioria das pessoas LGBTQ+ passa por vários momentos de descoberta. Embora eu só tenha me assumido completamente depois dos 25 anos, olhando para trás, os sinais estavam lá muito antes. Minha obsessão adolescente por Tegan e Sara, todos os personagens de The L Word (especialmente a Shane) e Casey Novak de Law & Order: SVU foram me dando pistas aos poucos de que meus sentimentos por mulheres não eram exatamente hétero. Mas agora, aos 30 e poucos anos, orgulhosamente queer, percebo que as horas que passei no ensino fundamental vestindo avatares de celebridades no Stardoll podem ter sido a coisa mais gay que eu fazia naquela época.
Não entro no Stardoll desde os 13 anos (e agora o site nem carrega para mim — será que meu IP adulto me entrega?). Naquela época, era um playground digital rosa onde eu perdia horas estilizando versões cartoon de Rachel Bilson, Paris Hilton, Lady Gaga e outras mulheres fashion — todas convenientemente começando de calcinha e sutiã. Para deixar claro, não era tão escandaloso quanto parece. O objetivo era vesti-las, não ficar encarando suas roupas íntimas virtuais — embora a pré-adolescente no armário que eu era fosse perfeitamente capaz das duas coisas.
Na época, eu teria negado veementemente qualquer subtexto queer na minha obsessão por Stardoll. Como uma criança solitária e imaginativa, o que eu mais amava era criar histórias elaboradas para as celebridades que eu vestia. Se eu tivesse escrito essas histórias, elas poderiam contar como meus primeiros contos — tipo a Kate Winslet se infiltrando como instrutora de mergulho ou a Lindsay Lohan se tornando uma campeã de hipismo (algumas das opções de roupa eram bizarras, ok?).
Claro, passar horas encarando mulheres cartoon seminuas pode parecer um prenúncio óbvio da minha futura saída do armário, mas, para mim, era mais sobre criatividade do que atração. Como Ocean Vuong diz sobre a queeridade alimentar a imaginação, minha versão envolvia inventar histórias para fazer companhia a mim mesma. O Stardoll me deu um espaço seguro para isso, longe das crianças da minha idade que teriam me zoado tanto pelo jogo quanto pelos meus pensamentos supergays sobre ele. (Vamos combinar — elas já me zuariam só por jogar, enquanto elas estavam tomando Smirnoff Ice escondido e beijando meninos chamados Trent.)
Agora, aos 31, não sei se serei mãe um dia, mas se for, espero que meu filho passe os anos de pré-adolescência grudado em sites inofensivos como o Stardoll, em vez de revirar os olhos quando eu disser "Chega de TikTok por hoje". Num mundo onde tanto do tempo online é performático, só espero que as crianças queer de hoje tenham seus próprios jeitos de explorar — seja com bonecas de papel digitais ou algo totalmente novo.