Há exatamente um ano, numa fresca noite de outubro, algumas centenas de pessoas reuniram-se numa calçada da Rua Grand, no Chinatown de Manhattan. Estavam ali para assistir a uma animada atuação do violinista Adrian Jusdanis, da banda New Thousand. Embora Jusdanis estivesse cativante, era apenas o ato de abertura do evento principal: o regresso do Beverly's, um querido bar gerido por artistas que abriu originalmente em 2012. A sua localização original na Rua Essex, n.º 21, tinha encerrado durante a pandemia, em 2020. Apesar de desde então ter havido *pop-ups* e espetáculos itinerantes, encontrar uma casa permanente tinha sido um desafio.
Quando o Beverly's se instalou finalmente no n.º 297 da Rua Grand, a fundadora Leah Dixon quis celebrar — naturalmente. Mas também sabia que haveria alguma tristeza: pelo antigo espaço, por tudo o que Nova Iorque mudou desde a COVID, e pela difícil jornada até à reabertura. Dixon, que também é escultora, imaginou toda a gente à espera, juntos, à entrada, partilhando a sensação de serem mantidos do lado de fora. "Ninguém entra logo assim, sem mais", explica. Ela passou meses a preparar o espaço físico, mas acrescentou: "Só é o Beverly's quando toda a gente entra lá para dentro."
Para perceber porque é que tanta gente esperaria uma hora no exterior, com 8°C, por um bar que não faz publicidade, não tem ligações a celebridades, não serve *cocktails* sofisticados ou comida, e carece de grande apoio financeiro, é preciso apreciar a rede que o Beverly's construiu no mundo da arte. Desde que abriu há mais de uma década, o Beverly's exibiu o trabalho de cerca de 300 artistas, incluindo Michael Assiff, Zachary Fabri, Emily Weiner, Edward Salas, Carlos Rosales-Silva e Azikiwe Mohammed. Proporcionou empregos que ajudam artistas a financiar o seu trabalho, serviu como um local onde amizades e relações se formam, e até onde colecionadores e negociantes fecham acordos. A equipa do Beverly's organizou exposições em Porto Rico, Miami e Cidade do México, onde participou na Feira de Arte Material nos últimos dez anos. O bar acolhe de tudo, desde feiras de *fanzines* a sessões de DJ noturnas e encontros políticos. É como um *Cheers* moderno para o público artístico do *downtown*, movido por um espírito DIY e muita determinação.
"Sinto que o próprio Beverly's é uma obra de arte experimental que evoluiu e durou mais de uma década em Nova Iorque, apoiando gerações de artistas através das suas várias formas", diz a curadora independente Anne-Laure Lemaitre.
Carlos Rosales-Silva, que exibiu as suas pinturas com o Beverly's e está a ajudar a desenvolver a sua nova organização sem fins lucrativos, acrescenta: "É um espaço onde tudo é possível. Tudo acontece através de puro amor e paixão, o que para muitos de nós é a única opção."
O apelo do Beverly's não se limita a artistas emergentes. Jo Shane, uma artista multidisciplinar de 70 anos que faz parte da cena artística de Nova Iorque há 50 anos, chama-lhe um "porto seguro". Visitou pela primeira vez a localização da Rua Essex em 2015. "O Beverly's era um sítio que respeitava trabalho vanguardista, mas existia fora do sistema das galerias, com a sua própria identidade", diz. "Na altura, teria feito tudo para expor lá." (Ela acabou por exibir o seu trabalho de instalação no Beverly's em 2018, com ambos os braços ainda ligados.)
Agora, passado um ano a gerir o novo espaço permanente, Dixon reflete. Conseguirão recriar a magia da Rua Essex na Rua Grand, especialmente quando o bairro, o mundo da arte e a cultura no geral mudaram tanto?
Eah Dixon, artista e fundadora do Beverly's.
Foto: Danny Baez
A história do Beverly's está profundamente ligada ao seu bairro. Dixon mudou-se de Ohio para Nova Iorque em 2004 — "Literalmente, fiz o meu último exame e entrei num carro" — e o seu primeiro apartamento em Manhattan foi no n.º 21 da Rua Essex. Essa ligação ajudou-a a assegurar o arrendamento para o Beverly's em 2012, uma vez que já conhecia o senhorio. No início dos anos 2000, o Lower East Side não se parecia em nada com a atual Dimes Square. "O 169 estava lá, mas era basicamente isso", recorda Dixon. Ela começou a trabalhar no Welcome to the Johnsons, um bar de mergulho com tema de cave dos anos 70 na Rua Rivington que ainda existe, e rapidamente se tornou gerente. Quando o proprietário abriu o Sweet Paradise Lounge na Rua Orchard, Dixon mudou-se para lá no início de 2007. O local era acolhedor, propício a dança, com tetos baixos e cervejas a 3 dólares, atraindo uma multidão de jovens artistas como ela. "Quem quer que lá tenha ido pode ver esse ADN no Beverly's", diz. Mas à medida que a gentrificação se instalou, o edifício que albergava o Sweet Paradise foi comprado pelos proprietários do The Fat Radish, um restaurante britânico rústico-chique do outro lado da rua.
Quando o Sweet Paradise fechou em 2010, isso despertou uma nova ideia em Dixon. Ela percebeu que exibir arte num ambiente de vida noturna daria a ela e a outros artistas mais visibilidade. Apresentou o conceito a Chris Herity, um habitual do Sweet Paradise que trabalhava num bar de café nas proximidades que também estava a fechar. Ele concordou em juntar-se.
Trabalhando com um orçamento limitado, Dixon sabia que precisavam de uma vantagem para assegurar um arrendamento. Felizmente, o seu antigo senhorio do n.º 21 da Rua Essex alugou-lhes um pequeno espaço no rés-do-chão. As renovações estavam quase terminadas quando o Furacão Sandy atingiu no final de 2012, causando atrasos e problemas burocráticos. Após quatro meses, finalmente abriram em fevereiro de 2013.
Justin Wilson mudou-se da Califórnia para Nova Iorque para um trabalho de design na American Eagle pouco depois da abertura do Beverly's. Não conhecendo ninguém na cidade, foi atraído pelo brilho rosa-arroxeado distintivo do bar. "Dava para perceber que este sítio tinha um ar fixe só por fora", diz. Com música soul dos anos 80 a tocar, iniciou uma conversa com o empregado do bar e rapidamente se tornou um habitual. É agora um parceiro de Dixon na nova localização no n.º 297 da Rua Grand.
"Houve tantos momentos no Beverly's que foram catárticos", recorda Wilson, como a noite da primeira vitória presidencial de Trump: "Transformou-se de uma festa num funeral."
Eventos no Beverly's original — quer fossem sessões de DJ, festas de aniversário ou inaugurações de arte — atraíam *skaters*, entusiastas da moda e artistas. "As pessoas apareciam simplesmente porque era o ponto de encontro local", diz Edward Salas, um artista de escultura que começou a servir lá em 2016 e agora trata das reservas para o novo espaço.
Mas em 2020, a localização da Rua Essex foi vítima da pandemia, como muitos pequenos negócios. Com margens reduzidas e incapaz de operar a plena capacidade, anunciaram o seu encerramento a 1 de julho.
O Beverly's encontrou então uma casa temporária no n.º 5 da Rua Eldridge, no Chinatown, de 2021 a 2023. Após angariação de fundos para o arrendamento e extensas renovações, organizaram eventos ao estilo *speakeasy* às sextas-feiras. Por 20 dólares, os convidados disfrutavam de *punch* e exposições de arte imersivas e deslumbrantes, explica Dixon.
A primeira vez que Lemait... A curadora, Re, visitou o Beverly's na localização da Eldridge e ficou imediatamente impressionada com a facilidade de envolvimento da comunidade. "Isso interessou-me muito porque, como curadora, muitas vezes encontrei espaços de arte fechados à forma como o público se envolve com trabalho experimental", diz. "Sem o estigma de um espaço de arte, algo mágico acontece na forma como as pessoas se ligam à arte."
Embora fosse fantástico juntar as pessoas novamente, Dixon sabia que o espaço da Eldridge não era permanente e começou a procurar uma localização mais duradoura. Ela queria um local numa rua comercial para evitar queixas de barulho e suficientemente longe da Dimes Square, onde o ambiente mudou para reservas em bares de vinho natural em vez de combinações casuais de cerveja e *shot*.
A localização na Rua Grand cumpria os requisitos, mas assinar um arrendamento de 10 anos foi apenas o início. "Para obter uma nova licença de álcool, é preciso passar fins de semana na esquina, a pedir às pessoas para assinarem petições e escreverem cartas a mostrar apoio comunitário", explica Dixon. "No bairro onde vivi durante 21 anos, onde o Beverly's está localizado e onde crio a minha arte, ele mistura-se com o Chinatown. É crucial chegar a todos na comunidade. Desta vez, para o n.º 297 da Rua Grand, a resposta foi extremamente positiva — as pessoas ficaram emocionadas por o Beverly's estar a regressar."
No entanto, o Beverly's está a reabrir numa era mudada. Diz-se que a Geração Z bebe menos, e a vida noturna gira frequentemente em torno de eventos efémeros que requerem RSVP em plataformas como o Partiful. "Um arrendamento de 10 anos é muito mais desafiador do que um *pop-up* de três dias", diz Wilson, o novo parceiro. Mas ele e Dixon acreditam que ainda há valor em estabelecer raízes e construir um modelo sustentável.
Até agora, está a resultar. "Ainda serve artistas e o mundo da arte", diz Salas. Uma parte crucial disto é a visão curatorial de Dixon. "Ela dá uma oportunidade às pessoas antes de serem avaliadas por outros." Muitos artistas que ela apoiou passaram a expor em galerias e museus prestigiados.
Este mês, assinalando o primeiro aniversário, está patente no Beverly's uma exposição intitulada "Nanna", com vídeo, cerâmica, pintura, fotografia e trabalhos têxteis dos artistas Mollie McKinley, Stina Puotinen e Alex Schmidt. Eventos recentes incluem o Supper Social, uma soirée casual para o mundo da arte emergente organizada pela curadora independente Lauren Hirshfield, e uma colaboração "big sandwich" com a Regina’s Grocery, onde um *sub* de seis pés foi servido debaixo de uma réplica pintada.
Estão planeados mais eventos, festas e exposições de arte. O Beverly's estará na Feira de Arte Untitled em Miami em dezembro e de volta ao Material na Cidade do México em fevereiro. Na primavera, para o seu 13.º aniversário, organizarão uma grande angariação de fundos fora do local. A própria Dixon tem várias exposições agendadas para 2026, incluindo nas galerias nova-iorquinas Trotter and Sholer e Underdonk.
"Penso frequentemente na importância dos espaços sociais durante tempos de agitação, quando as coisas estão a desmoronar-se", diz Dixon. "Mudei-me para perto das Torres Gémeas no início dos anos 2000." Ela viu como ter um local para se reunir tornava a vida numa cidade frenética como Nova Iorque sustentável. É por isso que abrir um novo espaço físico para o Beverly's foi tão importante para ela — as pessoas precisam de um sítio para onde ir.
"Mudou verdadeiramente a minha vida como artista em Nova Iorque", diz Carlos Rosales-Silva, um membro de longa data da comunidade do Beverly's. "E acho que se trata realmente de estar em comunidade com este espaço." É um adorável grupo de malucos.
Perguntas Frequentes
Claro. Aqui está uma lista de Perguntas Frequentes úteis sobre o regresso do How Beverlys, o querido bar DIY do mundo da arte.
Geral / Perguntas para Principiantes
1. O que é o How Beverlys?
É um lendário bar DIY sem luxos em Nova Iorque que era um ponto de encontro querido para artistas, músicos e criativos, conhecido pelas suas bebidas baratas e atmosfera eclética e focada na comunidade.
2. Ouvi dizer que fechou. Porque é que fechou inicialmente?
Fechou principalmente devido às pressões financeiras da pandemia de COVID-19, como muitos outros locais independentes e pequenos.
3. Está realmente de volta? Onde está localizado agora?
Sim, reabriu oficialmente. Está agora localizado no n.º 135 da Broadway, em Bushwick, Brooklyn, após o encerramento da sua localização original em Ridgewood.
4. O que significa mesmo "bar DIY"?
Significa que o espaço tem uma vibe prática e de base. É frequentemente gerido por artistas, com foco na comunidade em vez de polimento. Pense em decoração eclética, um jukebox e uma sensação despretensiosa e acolhedora.
O Regresso e Mudanças
5. Como é que o How Beverlys conseguiu fazer um regresso?
O regresso foi impulsionado por um forte apoio da comunidade, incluindo esforços de angariação de fundos bem-sucedidos e uma parceria com a equipa por trás do bar vizinho The Broadway.
6. A comunidade ajudou a salvá-lo?
Absolutamente. A comunidade desempenhou um papel enorme através do apoio vocal nas redes sociais e da contribuição para campanhas de angariação de fundos que demonstraram que ainda havia uma forte procura pelo bar.
7. A nova localização é diferente da antiga?
O espírito é o mesmo, mas o novo espaço é maior e tem algumas novas funcionalidades, como uma cozinha para *pop-ups* de comida. A vibe central — ser um centro criativo casual — mantém-se intacta.
8. Ainda é só dinheiro?
Não, esta é uma atualização chave para o regresso. A nova localização aceita tanto dinheiro como cartões de crédito, tornando-a mais conveniente para todos.
Visitar e Experiência
9. Como é a vibe agora que reabriu?
Os habitués dizem que ainda se parece com o mesmo How Beverlys de sempre — um local acolhedor e despretensioso onde se pode facilmente iniciar uma conversa com um estranho. Manteve a sua alma.
10. Que tipo de eventos é que eles têm?
Eles organizam uma variedade de eventos, fiéis às suas raízes DIY.