No pico da alta joalheria, a casa veneziana Codognato ocupa um espaço único e elevado — ao mesmo tempo estranho e sublime. Apenas verdadeiros conhecedores têm acesso ao perturbador bestiário do joalheiro: caveiras de esmalte com olhos iluminados por rubis, serpentes douradas enroladas em sapos e ratos, e minúsculos caixões pendurados como amuletos medievais sombrios em colares de camafeus antigos. Este é o mundo assombroso e magnífico de Attilio Codognato, o falecido mestre da adornação intelectual e misteriosa.
Escondida como um segredo bem guardado num beco estreito a poucos passos da Praça de São Marcos, repleta de turistas, a sua pequena oficina parece um mundo à parte das exposições polidas da alta joalheria tradicional. As criações de Codognato não tratam de simetria perfeita, solitários deslumbrantes ou elegância convencional. Em vez disso, exploram a mortalidade e a travessura, misturando beleza com um toque de perigo e inquietação. Usar uma das suas peças — impregnada do simbolismo histórico e filosófico do *memento mori* — não é apenas um acessório, mas uma declaração de lealdade ao lado sombrio e intoxicante da vida. Mais parecido com um gabinete de curiosidades com cortinas de veludo do que com uma joalharia, o seu ateliê funciona como parte galeria de arte, parte relicário, e um local de peregrinação para um círculo seleto de conhecedores abastados.
Um novo livro, intitulado **Memento Vivere**, destaca o trabalho extraordinário do falecido Codognato e o legado que deixou após o seu falecimento em 2023. Esse legado está agora a cargo dos seus herdeiros: o seu filho Mario, um curador de arte com um impressionante currículo internacional, e a sua filha Cristina, que dirige um consultório de psicoterapia em Londres. Juntos, estão a guiar o património familiar para a frente — não com uma mudança radical, mas com um compromisso renovado com a visão do seu pai.
"Nenhum de nós imaginou que um dia iríamos assumir — as nossas vidas e carreiras estavam noutro lugar", disse Mario Codognato, falando do piso nobre do palácio veneziano do seu pai, rodeado por uma excecional coleção de arte que inclui Mestres Antigos, Surrealistas, Warhols, Twomblys, Rauschenbergs e numerosas obras do seu artista favorito, Duchamp. "Mas à medida que o nosso pai foi envelhecendo, começámos a ajudá-lo, até mesmo com a mudança da loja, e entrámos gradualmente num mundo que há muito admirávamos à distância. Logo percebemos que seria uma pena deixar esta história terminar."
"Conhecer os artesãos — verdadeiros artistas por direito próprio — que trabalharam com o nosso pai durante gerações fez-nos apreciar o quão precioso é este legado", acrescentou Cristina. "Também somos guiados pelo seu extenso arquivo, que continua a inspirar-nos." Estes artesãos habilidosos sabem como reviver designs antigos e criar novos dentro do espírito que o seu pai defendeu: cada joia deve ser única, uma bela variação sobre um tema. "Seguimos o mesmo princípio, enriquecendo a coleção com peças que carregam história, como os camafeus antigos que adquirimos recentemente e transformámos em colares", explicaram.
A produção mantém-se intencionalmente pequena, com criações únicas disponíveis apenas na loja de Veneza. "O nosso pai nunca cedeu à tentação de se expandir para outros lugares, e nós também não o faremos", afirmaram. Na Codognato, a ideia de domínio global a retalho é indesejada, e o papel de um diretor criativo seria quase desnecessário — o arquivo, os artesãos e um toque de génio macabro têm guiado brilhantemente a casa durante gerações.
Com efeito, o nome Codognato tem encantado Veneza e uma clientela internacional desde 1866, quando Simeone Codognato, de 22 anos, abriu uma loja de antiguidades perto da Praça de São Marcos. Atendendo a viajantes aristocráticos na sua Grand Tour, ele depressa começou a criar joias que misturavam influências góticas e bizantinas. A joalharia Codognato tem cativado Veneza e uma clientela internacional desde 1866, quando Simeone Codognato, de 22 anos, abriu uma loja de antiguidades perto da Praça de São Marcos. Os seus designs misturavam influências bizantinas e renascentistas — história e decadência que se podiam usar.
Em 1897, o seu filho Attilio assumiu o controlo, inspirando-se nas descobertas arqueológicas etruscas e introduzindo as joias Vanitas em forma de caveira. Sombrias, opulentas e hipnóticas, estas peças provocadoras atraíram um círculo de artistas e intelectuais da vanguarda. Coco Chanel foi uma cliente imponente; Jean Cocteau, Sergei Diaghilev e Serge Lifar também ficaram encantados com o seu arrebatador fascínio. Após a morte do seu pai em 1958, o mais jovem Attilio Codognato assumiu o leme, dando continuidade a um legado rico em história, profundidade filosófica e um toque de humor negro glamoroso.
Enquanto psicanalista, Cristina Codognato está numa posição única para interpretar o simbolismo subconsciente nas criações do seu pai. Ela vê o seu fascínio pela imagética do *memento mori* como um símbolo psicanalítico: "A caveira representa a consciência inconsciente da morte — algo inevitável, mas muitas vezes reprimido. Rituais que incorporam caveiras ou esqueletos permitem-nos aproximar-nos da morte sem sermos dominados por ela", explicou, mostrando que a família partilha uma apreciação pela sabedoria não convencional. "Psicanaliticamente, isto é uma forma de exorcismo: transformar o medo silencioso em símbolos, linguagem, sonhos e rituais. Desde a dança macabra medieval até à *vanitas* barroca, desde o Día de los Muertos no México até às relíquias cristãs, a caveira domestica o terror, tornando-o algo que podemos contemplar e até achar belo."
Os colecionadores há muito são atraídos pelo fascínio perturbador dos talismãs de Codognato. Uma das mais devotas é Maria Grazia Chiuri, que acolheu o lançamento de um livro sobre a marca no palácio da sua família durante o Festival de Cinema de Veneza, juntamente com a sua filha Rachele Regini, que tem sido cativada pelo misticismo de Codognato. O evento pareceu uma reunião festiva, atraindo uma mistura glamorosa de amigos da família, incluindo Julian Schnabel, Anish Kapoor, Dries Van Noten, Juergen Teller, Willem Dafoe e Francesca Bellettini, todos presentes para celebrar o novo capítulo da casa.
"O que mais amo é o artesanato: joias que exibem técnicas extraordinárias, desde o corte natural das pedras até às suas engastaduras", disse Chiuri, que centrou o seu trabalho na Dior em torno do respeito pelo artesanato. "Consigo reconhecer imediatamente aquele trabalho manual inconfundível — alta joalheria com um espírito de *couture*, sempre única. Não há duas peças iguais, graças ao toque do artesão, um verdadeiro ourives-artista."
Chiuri usa sempre vários anéis Codognato e guarda muitas memórias afetuosas do falecido joalheiro. "Comprei a minha primeira peça Codognato há mais de 20 anos. Não foi uma herança ou tradição familiar — foi uma escolha minha", recordou. "Sempre que vinha a Veneza, a minha primeira paragem era a loja dele, e ainda é. Lembro-me de uma vez querer um colar. O Attilio olhou-me nos olhos e disse: 'Não, senhora, não há nada adequado para si agora. Mas quando houver, ligo-lhe.' Oito meses depois, o telefone tocou: 'Encontrei o seu colar. Vou enviar alguém a Roma — sem compromisso, mas acho que é o indicado.' E claro que era." "Era exatamente o colar com que eu tinha sonhado." Chiuri usa sempre vários anéis Codognato e guarda muitas memórias afetuosas do falecido joalheiro.
"A parte mais engraçada foi muitas vezes arrastar o meu marido, com a minha filha Rachele como minha cúmplice", partilhou. "Uma manhã, logo depois de sairmos do comboio, fomos a correr para a loja. Experimentámos tudo e encontrámos um colar que ambas adorámos. Eu disse: 'Vamos comprá-lo juntas — chamemos-lhe orçamento familiar.' Saí dizendo que ia pensar, pois dou sempre a mim mesma cinco minutos para refletir. Mas quando chegámos à esquina, disse à Rachele: 'De maneira nenhuma, precisamos dele! Vamos voltar.' Cinco minutos depois, estávamos de volta à loja, a fazer felizes a compra. Partilhar a experiência tornou o gasto mais fácil, quase como se estivéssemos a criar uma futura herança de família."
Usar um anel de caveira esmaltada ou um pingente de caixão de ouro que se abre para revelar um esqueleto reclinado pode não ser a ideia de joia de investimento de toda a gente. No entanto, estes símbolos são menos sobre a morte e mais sobre a vida — uma ousada lembrança para viver o momento. Afinal de contas, a morte é apenas um início disfarçado. O escritor italiano Angelo Flaccavento, que escreveu a introdução do livro, concorda: "O Attilio tinha um agudo sentido de humor e adorava paradoxos. A sua atração pela escuridão nunca foi sombria, mas cheia de vida, nunca soturna, mas vibrante. Ele criou a sua própria linguagem visual, transformando séculos de reflexão sobre a natureza fugaz da vida em algo tão decorativo e deslumbrante, mas tão duradouro, como uma joia."
A capa do livro, **Memento Vivere**, publicado pela Marsilio Arte.
Perguntas Frequentes
Claro. Aqui está uma lista de Perguntas Frequentes sobre "Lembre-se de Viver: A Joalharia Marcante e Sombria de Attilio Codognato", concebida para ser útil tanto para recém-chegados como para entusiastas.
Iniciante / Perguntas Gerais
1. O que é a joalharia Attilio Codognato?
Attilio Codognato é uma joalharia histórica familiar em Veneza, Itália, famosa pelos seus designs únicos e dramáticos que frequentemente combinam materiais preciosos com temas simbólicos sombrios, como caveiras, serpentes e moedas antigas.
2. O que significa "Lembre-se de Viver" em relação a esta joalharia?
"Lembre-se de Viver" é um tema filosófico central no seu trabalho. É uma resposta à ideia de *Memento Mori*. A joalharia incentiva o usuário a abraçar a vida, a paixão e o momento presente, mesmo enquanto reconhece a mortalidade.
3. Onde é feita e vendida a joalharia?
A joalharia é artesanalmente produzida na sua oficina e vendida principalmente na sua boutique emblemática em Veneza. Não está amplamente disponível noutras lojas, o que acrescenta à sua exclusividade.
4. A joalharia Codognato é cara?
Sim, é considerada joalharia de luxo de alta gama. As peças são feitas à mão, frequentemente usando ouro de 18k, pedras preciosas e artefactos antigos, o que comanda um preço elevado.
Design / Perguntas de Estilo
5. O que torna o estilo de Codognato tão único?
A sua singularidade vem da estética sombria ou romanticamente obscura. Eles dominam a combinação do macabro com elementos vibrantes e belos, criando peças que são simultaneamente ousadas e elegantes.
6. Quais são alguns dos seus designs mais icónicos?
Designs icónicos incluem anéis de caveira com olhos de pedras preciosas, pulseiras de serpente e colares que se enrolam realisticamente, e peças que incorporam moedas romanas e bizantinas antigas montadas em engastes modernos de ouro.
7. A joalharia é apenas para um certo tipo de pessoa?
Embora tenha um estilo distintivo e ousado, atrai uma vasta gama de pessoas que apreciam arte, história e joalharia que conta uma história. É para quem quer fazer uma declaração para além das peças de luxo tradicionais.
Perguntas Práticas / Avançadas
8. Como posso saber se uma peça é autêntica?
A joalharia Codognato autêntica está marcada com o carimbo Codognato. A melhor garantia de autenticidade é