Aqui está a tradução para o português:

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"Meu pai era caminhoneiro e sempre tocava Evita na cabine enquanto dirigia — era seu musical favorito. Ouvir a trilha agora traz de volta memórias vívidas de estar ao lado dele naquele caminhão enorme, atravessando zonas industriais e estradas cinzentas pelo país. Ele sabia cada palavra e cantava junto."

Jamie Lloyd sorri. Hoje um dos diretores teatrais mais celebrados do mundo, ele se prepara para levar sua própria versão do icônico musical de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber ao London Palladium. "Se meu pai ainda estivesse aqui, ficaria maravilhado."

No papel de Eva Perón está Rachel Zegler, trocando a inocência de Maria em West Side Story (2021) de Spielberg e na live-action de Branca de Neve da Disney pelas complexidades afiadas da controversa primeira-dama argentina.

Diretor e estrela estão em um jardim ensolarado no sudeste de Londres — substituto atual dos Pampas — com o Tâmisa fluindo silenciosamente nas proximidades. Os ensaios começaram ontem, e eles conversam com uma intensidade tranquila, sentados a uma pequena mesa ou próximos um do outro na margem do rio. Formam uma dupla improvável: ela tem 24 anos, é pequena e energética, sempre em movimento, com os laços de seu vestido Dior balançando ao vento (ela é embaixadora da marca). Ele tem 44, mais reservado, com um físico musculoso sob a camiseta justa e tatuagens intrincadas no couro cabeludo visíveis sob seu chapéu característico.

Há uma conexão imediata enquanto ele compartilha sua visão para a produção e ela dispara perguntas, com seu goldendoodle, Lennie (nomeado em homenagem a Leonard Bernstein, compositor de West Side Story), pulando ao redor. A empolgação deles é palpável.

Lloyd descobriu Zegler através de suas performances no YouTube. "Ela é uma vocalista incrível", diz. "Ouvir ela cantar esse material me arrepia." Ao escalar elencos, ele sempre busca uma conexão pessoal. "Na primeira leitura, enquanto outros eram polidos e formais, ela se movia pela sala, se expressando totalmente. Adoro isso — minha abordagem depende de atores se sentindo livres."

Zegler sorri e devolve o elogio. "Ele é um amor — gentil, de coração aberto e nos encoraja a performar sem inibição. No momento que você se segura, a mágica desaparece."

Essa habilidade de inspirar atores pode ser o maior trunfo de Lloyd. Sua recente montagem de Muito Barulho por Nada, com Tom Hiddleston e Hayley Atwell, teve um elenco que já havia trabalhado com ele antes — e voltou ansioso.

"Ele cria um espaço democrático", diz Atwell, que colaborou com ele três vezes. "Nem todo diretor gosta de atores — somos imprevisíveis, brincalhões. Mas Jamie adora isso. Ele quer que pareça um playground."

Calor e paixão impulsionaram a carreira de Lloyd, desde seus primeiros passos na Liverpool Institute for Performing Arts até mais de 70 produções. Agora no auge, ele fundou a Jamie Lloyd Company em 2013, priorizando acessibilidade com ingressos mais baratos para jovens e públicos carentes. Para Evita, 5.000 ingressos a £25 estão disponíveis para menores de 30, trabalhadores essenciais e beneficiários de auxílio.

Seu portfólio demonstra sua versatilidade — de Betrayal de Harold Pinter a releituras ousadas de clássicos — provando sua capacidade de equilibrar ambição artística e apelo popular.

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O West End e a Broadway viram uma série de produções marcantes sob a direção de Jamie Lloyd — uma Betrayal intimista e despojada com Tom Hiddleston, Zawe Ashton e Charlie Cox; uma nova visão de Cyrano de Bergerac com James McAvoy; A Gaivota de Tchekhov em Londres com Emilia Clarke; Casa de Bonecas de Ibsen em Nova York com Jessica Chastain; um revival de The Effect estrelado por Paapa Essiedu e Taylor Russell; um Romeu e Julieta que fez fãs formarem filas no Duke of York’s Theatre para ver Tom Holland; e uma crua e premiada Sunset Boulevard com Nicole Scherzinger.

Mais recentemente, duas produções shakespearianas foram encenadas no Drury Lane — uma Tempestade austera com Sigourney Weaver (que decepcionou a crítica — Lloyd admite: "Às vezes uma produção está a todo vapor nos ensaios, mas sob a pressão das estreias, as coisas mudam e ela não está no seu melhor") e um aclamado Muito Barulho por Nada. Após Evita, Lloyd dirigirá Esperando Godot de Samuel Beckett na Broadway, reunindo os astros de Bill & Ted, Keanu Reeves e Alex Winter. Os amigos de longa data apresentaram a ideia a Lloyd, que aceitou na hora. "Sempre quis encenar essa peça", diz ele. "E adorei que eles fossem amigos há tanto tempo. É sobre companheirismo diante do vazio, não é?"

É uma sequência impressionante — especialmente considerando a infância não convencional de Lloyd em Dorset nos anos 1980. "Soa estranho quando digo em voz alta", ele admite, rindo. Após o divórcio dos pais aos cinco anos, seu primeiro padrasto — um animador infantil chamado "Tio Engraçado" — era "horrível". "Ele se apresentava com coelhos que mantinha em uma gaiola na nossa sala", lembra Lloyd. "Parece clichê, mas viver com ele era miserável."

Em certo momento, a família morava acima de uma loja de fantasias, onde o jovem Jamie descia escondido para se vestir. "Às vezes posava na vitrine como um manequim e me mexia de repente para assustar os passantes", conta.

Ele e seus primos eram obcecados por Michael Jackson, recriando o clipe de "Thriller" com lápides de isopor caseiras. "Nos chamávamos de 'Rainbow Kids' e nos apresentávamos na rua, querendo ou não." Um ponto de virada foi quando seu pai — que tocava em uma banda cover de Cliff Richard — o levou para ver a turnê Bad de Jackson em Cardiff. "Estávamos lá atrás, mas lembro de vê-lo, pequeno no palco, mantendo a plateia em silêncio antes de retomar a música. Não era teatro, mas era puro entretenimento — um daqueles momentos em que tudo faz sentido."

As produções recentes de Lloyd — como a Sunset Boulevard em preto e branco e Romeu e Julieta — frequentemente usam câmeras, telas e microfones, ampliando seu apelo moderno. Nicole Scherzinger, que Lloyd insistiu por anos para interpretar Norma Desmond, observa: "Adoro como sua abordagem é minimalista. Sem distrações — apenas o cerne da história, a verdade do momento. Ele torna tudo real."

Seu distanciamento das raízes teatrais tradicionais se reflete em seu trabalho. "Muitos dos meus colegas cresceram assistindo a montagens lendárias de Shakespeare — essa era a base deles", diz ele, irônico. "A minha foi nadar com pítons em uma piscina."

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(Nota: A última frase parece estar truncada no original, então a mantive como está.)

"Tínhamos um inquilino que era encantador de serpentes, então tínhamos uma piscina", ele diz, rindo. Pessoalmente, é quieto mas cativante — aberto e direto de um jeito que o torna instantaneamente simpático. Quando surgiram suas primeiras oportunidades de direção — assistindo Trevor Nunn em Anything Goes e Michael Grandage em Guys and Dolls, depois dirigindo The Caretaker no Sheffield Crucible a pedido de Samuel West —, ele sabia que vinha de um background diferente da maioria. "Eu usava blazer, me vestia mais formal e falava um pouco mais 'posh' para me encaixar. Sempre havia aquela síndrome do impostor."

Fotos antigas mostram um homem sério, de óculos, que lembra um pouco Harry Potter. "Pareço mesmo, não é?", diz, rindo alto. Hoje, ele está irreconhecível. Quando nos encontramos no Palladium, veste uma jaqueta de jeans Calvin Klein cinza, shorts Carhartt e tênis Nike. As pernas são a única parte do corpo sem tatuagens — desenhos intrincados cobrem sua cabeça, pescoço, braços e dedos. "É como um hobby", explica. "Sou fascinado pela história da tatuagem e como aparece em tantas culturas. Há uma comunidade real — você acaba conversando com as pessoas sobre suas tatuagens, quem as fez. Eu simplesmente amo."

Ele não se considera um diretor superstar — "não me sinto como um" —, mas mudou. "O mais difícil como artista e pessoa é perceber que a opinião alheia não é da sua conta", diz. "Essa necessidade de aprovação, de ser querido ou visto como importante ou descolado, é profunda. Ouvi recentemente que o maior arrependimento no leito de morte é não ter vivido conforme seus próprios termos. Que terrível arrependimento."

Ele vive essa filosofia, compartilhando abertamente seu amor por Brandon LaVar, um dançarino e ator americano que estrelou Sunset Boulevard na Broadway. Até alguns anos atrás, estava em um relacionamento de longa data com a atriz Suzie Toase, com quem tem três filhos. "Nunca disse que era hétero", afirma. "Quando conheci Suzie — que ainda é minha melhor amiga —, ela me via como uma pessoa abertamente queer. Nos apaixonamos e tivemos três filhos incríveis. As pessoas assumiam que eu era hétero por estar com uma mulher, mas meus amigos sempre souberam a verdade."

Jamie e Suzie se separaram antes da pandemia. "Honestamente, não achei que ficaria com mais ninguém, e não procurava um relacionamento com alguém do trabalho. Mas durante os ensaios, Brandon me deu um cumprimento de punho, nossos olhares se cruzaram, e meu coração acelerou. Simplesmente nos apaixonamos — foi lindo. Me sinto sortudo."

Ele sorri. Seus filhos — de 18, 12 e 8 anos — adoram Brandon. "Todos foram abertos, e é tudo muito alegre. Suzie e eu co-paternamos essas crianças incríveis, e passamos muito tempo juntos como uma grande família." No dia do nosso encontro, ele iria a parentes no norte de Londres para uma festa de aniversário — ele se esforça para passar o máximo de tempo possível com os filhos. Jamie ainda mora em Hastings, mas fica frequentemente com LaVar em Nova York. "Sou um pouco nômade. Não tenho muitos pertences e adoro viver com uma mala."

(Detalhes de styling: Jamie veste camisa e cardigã da Gucci com calças Ferragamo. Zegler usa jaqueta e minissaia Ferragamo com cardigã Maison Margiela e camiseta vintage. Fotografado por Matt Healy para British Vogue, julho de 2025.)

Essa felicidade pessoal prepara o cenário perfeito para sua empolgação em retornar a Evita, que conta a ascensão de Eva Perón da pobreza ao status de figura amada.

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A amada mas controversa esposa do presidente argentino Perón, Eva Perón é o tema do musical Evita. Lançado primeiro como álbum conceitual em 1976 (similar a Jesus Cristo Superstar), o espetáculo britânico estreou dois anos depois sob a direção de Hal Prince, tornando-se um grandioso espetáculo. O elenco original tinha Elaine Paige como Eva e David Essex como Che Guevara, o líder revolucionário que narra a história de Perón.

O musical começa com a morte de Eva em 1952, aos 33 anos, antes de retroceder para explorar sua vida tumultuada. Jamie Lloyd encenou sua releitura pela primeira vez no Regent’s Park Open Air Theatre em 2019, apresentando-o como uma ópera rock com arquibancadas ao fundo. A produção atual no London Palladium expande essa visão.

"É completamente diferente da montagem de Prince, que é insuperável", explica Lloyd. "Estamos abordando de uma nova perspectiva." Conhecido por encenações inovadoras — como filmar a protagonista de Sunset Boulevard caminhando pela Strand em Londres ou levar Romeu ao telhado em Romeu e Julieta —, Lloyd alimentou rumores de que Rachel Zegler como Eva pode aparecer na sacada do Palladium todas as noites. Enquanto Lloyd permanece evasivo, Zegler brinca: "Temos chamado de o show da Eva Perón no Coachella." Semanas depois, posts nas redes sociais dela cantando Don’t Cry for Me Argentina na fachada do teatro pareciam confirmar a ideia.

Para Zegler, estreando nos palcos britânicos, Evita é um papel dos sonhos — um que desejava desde que viu o filme de Madonna em 1996. "É um daqueles papéis do teatro musical que tem tudo: canto, dança e um desafio atoral profundo, percorrendo 18 anos da vida de uma mulher, dos 15 até sua morte."

O papel oferece um respiro após a polêmica em torno de Branca de Neve, onde seu casting sofreu ataques racistas por sua herança colombiana. Depois, seus comentários sobre o filme original da Disney e seu apoio à causa palestina geraram mais críticas. Normalmente franca, Zegler é cautelosa: "Foi muito trabalho duro, e tenho orgulho de como minha atuação foi recebida — é algo que me importa profundamente."

Ela é mais vocal sobre Eva Perón. "Na Argentina, as pessoas a adoram ou a detestam, mas seu impacto é inegável. Adoro quando a arte questiona o público sobre como eles se sentem."

Lloyd concorda. "A história é complexa, quase como uma série de tableaux. Você precisa abraçar sua natureza irregular e eclética. A ascensão de Eva do anonimato ao status de ícone espelha as estrelas pop atuais — por isso a abordagem de 'Coachella' funciona."

Suas reinvenções ousadas podem parecer chamativas, mas têm fundamento. Como observa Tom Hiddleston: "Jamie tem a coragem de honrar o material enquanto expande limites. Ele guia os atores a se engajarem profundamente, seja com a poesia de Shakespeare ou os silêncios de Pinter."

Para Lloyd, a mágica está no instinto. "Não penso demais — apenas sigo o que me excita."

"Adoro ir ao teatro, mas não vejo todos os espetáculos", diz o ex-membro. Então, o que vem depois? "Gosto muito de ler uma peça pela primeira vez", responde, pensativo. "Se ela acender minha imaginação, então eu a farei."

Evita ficará em cartaz no London Palladium até 6 de setembro.

Créditos:
Cabelo: Stelios Chondros
Maquiagem: Phoebe Brown
Unhas: Charly Avenell
Cenografia: Josh Stovell
Produção: Chloé Medley
Arte digital: Bayeux