O vestido da Mara Hoffman foi o momento em que percebi: eu nunca mais me esconderia atrás das minhas roupas. Eu estava assumida, orgulhosa e sem olhar para trás.
Era um minivestido branco e fresco de algodão e linho, com mangas bufantes e um decote amarrado nas costas que caía profundamente. Eu precisava tê-lo — e, assim que o consegui, precisei exibi-lo. "Você pode tirar uma foto?", pedi à minha amiga fotógrafa Melissa, e ela tirou. Então, postei no Instagram.
Eu vinha caminhando em direção a isso — exposição, liberdade, revelação — há anos, testando as águas com biquínis, vestidos justos e leggings. Mas isso pareceu monumental. O pêndulo já havia oscilado antes, mas desta vez foi como um dique se rompendo. Era 2019, e eu tinha 42 anos.
Nasci com a Síndrome de Klippel-Trenaunay, um distúrbio vascular congênito que me deixou com uma grande deformidade gordurosa nas costas e no torso, uma extensa mancha vinho do porto, pernas de tamanhos desiguais, postura inclinada e outros efeitos colaterais. Sempre amei roupas, mas elas nem sempre me amaram de volta.
Quando criança, eu "lutava" com minha calcinha. Minha mãe ainda ri disso. "Todas as manhãs", ela diz com uma risada, "lutando com sua calcinha." Eu também me lembro — puxando, torcendo e ajustando, sabendo que nunca ficaria certa. A maioria das roupas íntimas é feita para corpos com coxas e quadris simétricos, então as minhas nunca serviram direito. Outra criança poderia ter desistido completamente de usar calcinha, mas minha mãe me passou seu amor pela moda, e graças a Deus por isso. Ela garantia que eu estivesse sempre impecavelmente vestida (eu usava conjuntos da Norma Kamali no ensino fundamental) porque roupas lhe traziam alegria. E, embora meu corpo significasse que eu tinha que buscar essa alegria com mais esforço, nunca parei de procurar.
Na adolescência, a luta se tornou emocional, refletindo os altos e baixos do crescimento. Eu sempre quis o que não me queria de volta, conformando-me com o que conseguia. A busca se tornou a emoção — quanto mais difícil fosse encontrar algo, melhor. Nos anos 90, em Long Island, eu me espremia em jeans justíssimos da Farlow, que só iam até o tamanho 5 (eu mal cabia neles, e como ficavam — apertados em uma perna, folgados na outra — não importava). Segurava a respiração para fechar os Z-Cavariccis, com suas cinturas afuniladas justamente na parte mais larga do meu torso, onde uma colega de classe certa vez chamou o volume de "almôndega". Eu usava feliz conjuntos neon da Hotdogger, que gritavam "Olhe para mim!" — mas todas as outras garotas da escola também usavam.
Às vezes, meu corpo parecia inofensivo. Outras vezes, parecia algo pegajoso e grotesco, como se tocar em mim deixasse alguém contaminado. Eu nunca amei meu corpo — na melhor das hipóteses, eu o tolerava; na pior, o via como um inimigo a ser superado. E, às vezes, as roupas pareciam fazer parte da conspiração.
Eu queria desesperadamente botas Justin na adolescência, mas elas só cabiam no meu pé esquerdo mais fino, não importa o quanto eu passasse de loção no direito, mais largo. Lembro-me de ver Stacy Gartenlaub calçar as dela sobre três pares de meias — seus pés eram tão estreitos que era a única forma de ficarem firmes. Poderíamos muito bem ser de planetas diferentes. Eu me convencia de que não podia usar os suéteres justos e canelados que estavam na moda na época, mesmo que fisicamente conseguisse vesti-los. Eu queria — gostava deles — mas havia decidido há muito tempo que minhas costas deveriam permanecer escondidas. Era como se eu tivesse assinado um contrato não dito com o mundo para manter partes de mim invisíveis.
Como marcas convencionais raramente serviam no meu corpo não convencional, desenvolvi um senso de estilo elevado quase por acidente. Eu usava vestidos de seda sob camisas xadrez antes de Marc Jacobs levar o grunge para as passarelas. Combinava babydolls da Betsey Johnson com calças boca-de-sino e botas Fluevog. Caçava Alberta Ferretti e Moschino no Loehmann’s Back Room e encomendava camisetas X-Girl de Kim Gordon pela revista Sassy. Meu visual era descolado, mas sem querer.
Foto: Katie Ward
Eu costumava usar shorts de jeans com confiança nos verões de Nova York, exibindo orgulhosamente minhas pernas assimétricas — até que um dia na faculdade, acordei e pensei: Como eu usei shorts todo esse tempo? Depois disso, minhas pernas não viram a luz do sol por quase uma década. Foi como sair de um sonho e cair em outro — mais seguro, mas mais sem graça. Eu usava saias por cima de jeans e amarava moletons na cintura. Ainda amava moda, mas sua alegria ficou em segundo plano diante da praticidade. As roupas viraram ferramentas: O que posso vestir que me esconda? E, uma vez escondida, será que gosto do que estou vestindo? Os casacos volumosos dos anos 2000 foram meus frenemies mais confiáveis.
Aos 20 e 30 anos, meu estilo oscilava entre exposição e ocultação, como uma câmera ajustando-se à luz. Quanto do meu corpo estou disposta a mostrar? Quão vulnerável me sinto hoje? A resposta mudava constantemente — dependendo da minha vida amorosa, dieta, humor. Raramente notava essas mudanças no momento; só depois conseguia mapear os altos e baixos.
Então veio a idade — o melhor remédio para o ciclo exaustivo de autodúvida.
Agora, aos 40 e poucos anos, minha regra de moda é simples: Meu desejo pelo item supera minha autoconsciência? A resposta é quase sempre sim. Se eu amo algo — o vestido de folha de ouro da Molly Goddard que abraça cada curva, o minivestido da Rachel Comey que destaca minhas coxas assimétricas, a blusa da Isabel Marant com shorts curtos e sandálias No. 6 (até na TV) — e consigo enfiar nele, eu visto. A vida é muito curta para não fazer isso. Quando você é jovem, acha que o tempo é infinito. Aos 40, você sabe que não é — e isso é libertador.
Nenhum romance me emocionou como a moda. Ninguém fez meus joelhos fraquejarem como conseguir o vestido de piscina Everly da Alémais de Katherine Ratliff, esgotado, após um relançamento surpresa. Nenhuma obra de arte igualou a adrenalina de uma confirmação de ApplePay por um vestido de couro da Khaite ou a colaboração Simone Rocha x Crocs. Esse êxtase me surpreende, especialmente depois de anos me escondendo. E o fato de meu guarda-roupa continuar se expandindo — agora incluindo vestidos sem costas — é ainda melhor.
Tento apoiar designers que priorizam inclusividade de tamanho — aqueles que optam por elásticos em vez de costuras rígidas. Não espero que eles me atendam (afinal, são artistas), mas dói quando me apaixono por um vestido com zíper atrás que não posso usar — um que caberia se fosse de vestir. Talvez um dia mais designers considerem corpos diversos. Até lá, comprarei o que funciona e investirei em marcas que o fazem. Alguns designers realmente pensam em pessoas reais, enquanto outros que fazem roupas "tamanho único" podem simplesmente sumir.
Aos 48, não sou jovem, magra ou o que a sociedade considera "normal" — e tudo bem. Provavelmente não sou quem muitos designers imaginam ao esboçar suas criações. Mas não me importo. O que visto se resume a uma pergunta: Eu quero isso no meu corpo, não importa o que os outros pensem? Graças à minha incrível mãe, que me ensinou cedo a amar moda, a resposta é sempre sim.
Houve um tempo em que até a palavra "costas" podia me perturbar. Uma sugestão simples como "Vamos voltar àquele bar" podia me deixar tensa — qualquer coisa que destacasse minha característica mais visivelmente diferente parecia um risco. A versão mais jovem de mim nunca acreditaria que a adulta não só diria a palavra, mas a exibiria com orgulho.
Não trato meu corpo como um templo ou mosteiro. É um salão de festas, um espaço para decorar, um presente para embrulhar em laços, estampas, couro e renda — não algo para esconder sob tecidos sem forma e sem graça. Meu corpo é um recipiente que amo e que me ama de volta. Cada novo dia é um presente, e as pessoas que me veem têm sorte de testemunhá-lo — então continuarei me vestindo como o presente que sou enquanto puder.
O livro de memórias de Carla Sosenko, I’ll Look So Hot in a Coffin: And Other Thoughts I Used to Have About My Body, já está disponível pela The Dial Press.