Tradução para o português:
Sinto-me mais à vontade no meu corpo quando estou em uma banheira. Isolada do mundo exterior, mergulho na água morna que me envolve como um casulo seguro. É o único lugar onde estou livre de julgamentos e responsabilidades — onde me sinto completamente presente em minha própria pele. Por isso, quando cheguei ao Japão na primavera passada, minha primeira prioridade foi visitar um onsen, uma fonte termal tradicional japonesa. Enraizado nas crenças budistas e xintoístas de que a água purifica a alma, o banho em onsen remonta ao século VI e ainda hoje é um ritual valorizado no Japão.
Com mais de 3.000 fontes termais espalhadas pelo país, encontrar uma não foi difícil. Depois de viajar de Tóquio para Kagoshima — uma cidade ao sul repleta de fontes graças ao vulcão Sakurajima — fiquei emocionada ao descobrir um onsen público apenas dois andares abaixo do meu quarto no Sheraton. No vestiário feminino, reparei em uma mulher com um braço amputado banhando-se ao lado de outras, sentadas em banquinhos e esfregando seus corpos com cuidado. Todos os corpos são bem-vindos aqui, lembrei a mim mesma.
Precisei desse lembrete porque estava me sentindo especialmente insegura. Depois de anos de excesso de exercícios e alimentação restrita aos 20, passei os últimos anos reconstruindo minha relação com a comida e meu corpo. Mas o estresse antes da viagem me fez perder peso, e comecei a temer meu reflexo no espelho. Pior: temia que outras mulheres vissem meu corpo magro como um símbolo da cultura das dietas e me julgassem por isso. Tentei me lembrar que meus medos eram apenas projeções das minhas próprias inseguranças — que as mulheres ao meu redor provavelmente estavam focadas demais em si mesmas para me criticar.
Mesmo assim, não deixaria que a insegurança me impedisse de mergulhar na cultura japonesa — especialmente algo tão sagrado quanto um onsen, um luxo que sentia falta desde que me mudei para o Brooklyn, onde banheiras são raras. Então, larguei a toalha que me cobria e corri (sem escorregar) até a piscina rasa mais próxima. Ao me acomodar na água fumegante com outras mulheres nuas, vi silhuetas refletidas no vidro embaçado. Havia curvas em lugares inesperados, proporções que não se encaixavam nas “formas de fruta” que eu lia em revistas. Eram corpos reais — cada um único, cada um bonito à sua maneira.
Depois de olhar por tempo demais, percebi que as outras mulheres mantinham o olhar baixo, como se dissessem que o corpo de uma mulher é assunto dela. Mas o que mais me impressionou foi a quieta confiança no ar — uma sensação de tranquilidade que vem de estar plenamente presente na própria pele. Uma mulher na piscina estava de costas, admirando uma árvore no pátio. Outra, no vestiário, estudava seu reflexo — não para ajustar ou corrigir, apenas observando, como se se visse pela primeira vez.
Nos 10 dias seguintes, viajando por Kyushu, visitei um onsen diariamente. A cada mergulho, ficava mais confortável nua. Essa terapia de exposição acidental me ensinou que a cura não vinha apenas da água rica em minerais ou da esfoliação — era sobre largar a toalha, expor-me e ver outras mulheres fazendo o mesmo. Pesquisas corroboram isso: o Dr. Keon West, professor de psicologia da Universidade de Londres, descobriu que passar tempo nu perto de outros (o que ele chama de “naturismo”) melhora a autoimagem, a autoestima e a satisfação com a vida. É um contrapoderoso aos corpos idealizados que nos ensinam a ver como normais.
Enquanto observava essas mulheres se moverem com serena confiança… Vendo mulheres seguindo meticulosamente suas rotinas de skincare no banheiro do aeroporto antes do meu voo noturno, me perguntei o que motiva as japonesas a mergulharem regularmente em onsens. Na América do Norte, a limpeza diária parece uma obrigação. Lá, os rituais de banho parecem ainda mais elaborados e demorados, mas menos ligados à vaidade. Como prática ancestral, o ato consciente de banhar-se parece permanecer uma verdadeira forma de autocuidado.
O mesmo poderia ser dito sobre os banhos públicos em Seul, a capital vizinha da beleza? Oito meses depois, viajei para a terra do meu pai para descobrir. Como o Japão, a Coreia do Sul valoriza há muito os banhos públicos, com saunas medicinais que remontam ao século XV. Mas foi durante o domínio japonês no final dos anos 1800 que as casas de banho coreanas, chamadas jjimjilbangs (que significa “sala aquecida”), se popularizaram. Semelhantes aos onsens, os jjimjilbangs modernos têm banhos quentes e frios, saunas e salas de vapor. A diferença? Não usam água termal natural e, embora façam parte da rotina de autocuidado dos coreanos, também são centros sociais — alguns até têm karaokê, áreas de alimentação e dormitórios (muitos ficam abertos 24 horas).
O maior contraste, porém, é o ambiente. Nunca esquecerei minha primeira experiência em um jjimjilbang durante minha viagem solo à Coreia aos 19 anos. Na época, estava mais confiante no meu corpo, mas nada me preparou para aquilo. As piscinas fervilhavam com mulheres coreanas conversando animadamente — o que soava como fofoca para meus ouvidos meio coreanos, mas não fluentes. Ao contrário dos onsens silenciosos e solitários do Japão, os jjimjilbangs eram barulhentos e comunitários, sem privacidade. Vi mulheres se contorcerem em posições impossíveis durante esfoliações completas, cada centímetro exposto. Os tratamentos pareciam intensos — luvas ásperas, cotovelos pressionando costas —, mas elas suportavam tudo sem pestanejar. Admirei a resiliência delas, mas não tive coragem de experimentar.
Mais de uma década depois, me perguntei se ainda acharia os jjimjilbangs avassaladores e decidi encarar minha primeira esfoliação. Para orientação, consultei a Dra. Eunice Park, cirurgiã plástica coreana fundadora da clínica AIREM em Nova York. Ela explicou que os jjimjilbangs de Seul se dividem em dois tipos: spas luxuosos em hotéis para estrangeiros e opções acessíveis frequentadas por locais. Como já havia experimentado o último, ela sugeriu começar pelo jjimjilbang de um hotel. Fui além e reservei um tratamento no Four Seasons Seoul.
Depois de 30 minutos alternando entre piscinas quentes, fui levada a uma área semi-privada para minha esfoliação. A atendente não perdeu tempo, esfregando-me vigorosamente com uma toalha áspera. Minhas experiências calmas em onsens não me prepararam para aquilo — pernas abertas, cada dobra esfregada. Não doía, mas também não era agradável, então concentrei-me na respiração. Uma inspiração profunda trouxe o cheiro de damasco, me transportando instantaneamente aos 13 anos, quando usava o esfoliante de damasco da St. Ives todas as noites.
Aquele aroma nostálgico, somado ao meu estado vulnerável, criou uma intimidade que não sentia desde a infância. A atendente não era calorosa ou delicada, mas seu toque direto me tranquilizou de forma estranha. A experiência era maternal, até reconfortante. Depois de esfregar cada centímetro do meu corpo, ela derramou uma bacia de água morna sobre mim, como um batismo. Em seguida, cobriu meu torso com três toalhas, que se transformaram em um cobertor pesado e reconfortante ao absorverem a água. Quando eu estava o mais seca possível na sala úmida, chegou a hora da minha “mini-massagem” — que não tinha nada de mini. Ela esticou meus membros em todas as direções e aplicou uma pressão tão intensa que superou até meus pedidos habituais por massagens firmes.
Quando ela chegou ao meu rosto, meu corpo estava mole como um boneco de pano. Suas mãos se moviam tão rápido que a imaginei como um polvo, dedos voando por todo lado. O frenesi continuou enquanto ela ensaboava xampu e condicionador no meu couro cabeludo. Então veio o único momento gentil — ela penteou o condicionador devagar, e por um instante, senti como se minha falecida mãe estivesse cuidando de mim novamente. Quando pensei que tinha acabado, ela me sentou e derramou óleo quente por todo o meu corpo, massageando minha pele recém-esfoliada antes de alongar meus braços uma última vez.
Saí da sala de tratamento atordoada — não grogue como após uma massagem comum, mas com uma leveza flutuante, como se tivesse sido purificada por completo. Foi a limpeza mais intensa que já experimentei, e me senti renovada. O mais surpreendente foi a calma silenciosa em minha mente — sem ansiedade, sem insegurança. Quando vi meu reflexo radiante no espelho, notei uma balança sob a pia, mas não tive vontade de subir nela. Em vez disso, saí e pedi o jantar sem pensar duas vezes.