Tínhamos um Mundo — uma nova peça de memórias engraçada, comovente e por vezes surpreendentemente íntima, escrita por Joshua Harmon (Prayer for the French Republic), em cartaz off-Broadway no New York City Center Stage II — tem Joanna Gleason no papel de Renee, uma mulher tão charmosa e peculiar quanto… bem, um tanto difícil. Como avó dedicada e cosmopolita do jovem Josh (Andrew Barth Feldman, de Saturday Night e No Hard Feelings), ela o apresenta a todo tipo de arte: Robert Mapplethorpe, Dança com Lobos, remontagens de Medeia com Diana Rigg e The Heiress com Cherry Jones, Soap de Tom Friedman. Mas sua relação com a mãe dele, Ellen (Jeanine Serralles), é muito mais complicada — e muito menos divertida — especialmente quando Renee se aproxima do fim da vida.
Andrew Barth Feldman e Joanna Gleason na peça We Had a World do Manhattan Theatre Club
Foto: Jeremy Daniel
Gleason, aclamada por seu papel vencedor do Tony em Into the Woods, além de atuações em A Day in the Death of Joe Egg, Dirty Rotten Scoundrels, filmes como Hannah e suas Irmãs e Boogie Nights, e séries como The West Wing e The Good Wife, está extraordinária no papel. “Achei o texto tão lindamente escrito que não pude recusar”, diz ela, falando por Zoom de sua casa em Connecticut, de onde viaja diariamente para a cidade. “Faz quase oito anos que perdi meus pais. Eles tinham 94 e 96 anos — e Renee vai dos 60 aos 94, passando por quase exatamente o que vi minha mãe passar. Isso pareceu uma chance de catarse, uma forma de honrar a perspectiva dela.”
Jeanine Serralles e Gleason em We Had a World
Foto: Jeremy Daniel
É também uma oportunidade de colaborar com dois atores excepcionais, Feldman e Serralles (ambos igualmente brilhantes). “A peça tem três protagonistas — e três antagonistas — como escrita”, explica Gleason. “Eles são atores incrivelmente talentosos que mergulham fundo. Nada é superficial. Toda noite, saímos do palco e caímos nos braços um do outro. Não dá para fingir esse tipo de conexão.”
Em alusão à exploração que We Had a World faz da formação artística de Harmon, Gleason compartilha os espetáculos, artistas e experiências que a moldaram como artista.
Sobre se apaixonar pelo teatro pela primeira vez
Robert Morse e Michele Lee na adaptação cinematográfica de 1967 de How to Succeed in Business Without Really Trying
Foto: Getty Images
“Morávamos em New Rochelle, Nova York, e meus pais levaram meu irmão e eu a uma matinê de How to Succeed in Business Without Really Trying, com Robert Morse, Michele Lee e Rudy Vallée. Até ficamos num hotel naquela noite — algo grande na época. Naquela noite, tranquei-me no banheiro e cantei o espetáculo inteiro de volta. Eu devia ter uns 11 ou 12 anos, e algo simplesmente clicou. Mergulhei em programas de teatro no colégio e na faculdade. Anos depois, fui a substituta de Rosemary numa remontagem de How to Succeed com Rudy Vallée e Robert Morse — conhecê-lo foi como fechar um ciclo.
Meus pais tocavam músicas de musicais o tempo todo enquanto eu crescia. Nos mudávamos muito, então o teatro virou minha constante. A cortina sobe, e há aquela família no palco — eles não se mudam, só contam sua história, noite após noite. Para uma carreira tão imprevisível, parecia mais estável que minha própria vida na época.”
Sobre se imergir na cena artística de Nova York
“Foi como uma escola de aperfeiçoamento para mim. No começo, me senti um pouco deslocada — a família do meu então-marido tinha vivido na França após a guerra. Eles conheciam arte, a colecionavam. Uma irmã tinha quadros que vendia quando precisava de dinheiro; a outra tinha peças que podia doar a museus pelo mundo. Minha própria exposição à arte era…”
Sobre o mundo da arte e sua exposição a ele:
“De repente, eu estava imersa nesse círculo glamouroso — Hal Prince, já que meu então-marido tinha crescido com Judy Prince, e Leonard Bernstein, com quem até jantamos no Elaine’s. Lembro de pensar: Uau, sou só uma garota do interior da Califórnia. Preciso acompanhar. A energia era rápida, inteligente e sofisticada. Era tudo sobre exposição, então eu abracei isso. Comecei a ir a museus, exposições e a frequentar galerias de amigos do meu marido. E adorei o que vi.”
Sobre o primeiro quadro que comprou:
“Quando me mudei para Nova York, estava fazendo I Love My Wife e ganhava cerca de US$ 700 por semana — talvez US$ 750. Meu apartamento custava US$ 250 por semana (os tempos mudaram!). Um dia, caminhando pela Madison Avenue, vi um quadro emoldurado de Erica Morley na vitrine de uma loja de pôsteres. Mostrava duas crianças brincando num quintal, com uma floresta, um celeiro vermelho, uma casa, um jardim e animais. Algo em mim disse: É aqui que quero viver. Nunca tinha morado num lugar assim. Comprei por US$ 125, e 48 anos depois, ainda o tenho. Desde então, muitas das artistas que coleciono são mulheres — Leigh Behnke, Candace Jans, Jessica Rice.”
Sobre suas primeiras experiências como diretora:
“Diane English, criadora de Murphy Brown, me deu minha primeira chance — um episódio de Love & War, a série em que eu atuava, além de três episódios de outro programa. Ela foi a primeira a dizer: Vou te mostrar como. Depois, dirigi para a Lifetime. Então, tinha experiência com TV, mas também tinha escrito um roteiro (The Grotto, meu primeiro longa) anos atrás e tinha medo de mostrar a alguém. Sabe aquela voz: Quem você pensa que é? Não fez escola de cinema. Você é velha demais. Não está feliz com o que já tem? Mas acabei mostrando ao meu amigo Todd Shotz, que dirige uma produtora. Ele disse: Vamos fazer esse filme. E fizemos. Uma única produtora, Laure Sudreau da Ouroboros Entertainment, bancou — e, por acaso, ela mora perto. Isso é providência. Isso é mágica.”
(We Had a World fica em cartaz até 11 de maio.)
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