Para os fãs de John Singer Sargent, amantes da Era Dourada e historiadores da moda, a história da estreia escandalosa de *Madame X* no Salão de Paris de 1884 é lendária. Quando o artista de 28 anos capturou a beleza marcante de Madame Pierre Gautreau — uma compatriota americana em Paris — ele a retratou exatamente como ela era: do coque avermelhado e nariz distintivo à pele de tom lavanda e o vestido preto justo, com a alça cravejada de joias escorregando do ombro.
Mas a pintura causou furor, com críticos atacando tanto o retrato quanto a já controversa reputação de Gautreau. Embora Sargent tenha repintado a alça para que ficasse corretamente no ombro, o estrago estava feito.
Depois de guardar a tela por mais de 30 anos, Sargent — que acabou se estabelecendo em Londres — vendeu *Madame X* para o Metropolitan Museum of Art de Nova York em 1915, onde ela permanece uma das grandes atrações. “É um retrato que cativa as pessoas — elas sempre se sentem atraídas por ele e querem saber mais sobre a modelo”, diz Stephanie L. Herdrich, curadora de pintura e desenho americano do Met. Ao longo dos anos, Herdrich tornou-se especialista em Sargent, brincando que é a “cuidadora, companheira de viagem e assessora de imprensa” de *Madame X*.
“Mesmo que as pessoas achem que conhecem a história da pintura”, ela acrescenta, “eu senti que havia mais a dizer.”
Originalmente, Herdrich planejou uma exposição focada apenas em *Madame X*, com o objetivo de apresentar uma narrativa mais profunda e matizada de sua criação e impacto. Mas, ao longo de seis anos, a ideia evoluiu para *Sargent e Paris*, uma ampla mostra da década decisiva do artista na capital francesa, culminando em sua obra-prima de 1884. Em cartaz no Met de 27 de abril a 3 de agosto, a exposição foi organizada em parceria com o Musée d’Orsay de Paris, para onde seguirá ainda este ano. (Coincidindo com o centenário da morte de Sargent, esta é a primeira grande exposição francesa dedicada a ele e a primeira vez em mais de 40 anos que *Madame X* é exibida na França.)
“Pensando em uma mostra que atendesse a ambas as instituições, o início da carreira de Sargent em Paris — um período crucial para ele — pareceu a escolha perfeita”, diz Herdrich. Ela destaca que o Musée d’Orsay possui obras notáveis de Sargent, como *La Carmencita* (1892), uma das primeiras pinturas de um artista americano adquirida pelo Estado francês e o primeiro retrato de Sargent a entrar em uma coleção pública. “Sargent é muito menos conhecido na França do que nos EUA”, ela acrescenta, “então esta também é uma chance de apresentá-lo a novos públicos.”
Até os admiradores de longa data de Sargent encontrarão surpresas: a exposição reúne cerca de 100 obras, incluindo algumas de suas peças mais celebradas de coleções ao redor do mundo. “Muitas delas estão entre as obras mais preciosas dos acervos dos empréstimos”, disse Max Hollein, diretor do Met, em uma prévia.
A mostra começa com os primeiros retratos e naturezas-mortas de Sargent, criados quando ele era um estudante de arte de 18 anos em Paris. John Singer Sargent nasceu em Florença em 1856. A exposição destaca suas influências artísticas, desde mestres antigos como Velázquez e Frans Hals até contemporâneos como Monet, Rodin e Helleu. Galerias posteriores exibem suas paisagens e obras arquitetônicas de suas viagens pela Itália, Espanha e Marrocos, além de retratos de mulheres parisienses que redefiniram a arte do retrato moderno.
Uma peça notável é *Londres nos Jardins de Luxemburgo* (1879), uma pintura a óleo agora no Philadelphia Museum of Art.
“As pessoas podem se surpreender com o quão prolífico e ousado Sargent foi nas décadas de 1870 e 1880”, diz Herdrich. “Embora seus retratos luxuosos dos anos 1890 sejam famosos, seu trabalho inicial é ainda mais ousado — ele estava experimentando e refinando seu estilo.”
A ousadia de Sargent é mais evidente em *Madame X*. “Foi um projeto ambicioso”, explica Herdrich. “Ele procurou Madame Gautreau, fascinado por seu perfil marcante e pele empoada, e criou inúmeros esboços preparatórios para capturar sua beleza única.”
Apesar de ter sido exibida anonimamente no Salão como *Madame ***, a modelo foi rapidamente reconhecida. Alguns críticos acharam o retrato pouco lisonjeiro, enquanto outros desprezavam a própria Gautreau — uma socialite nascida na Louisiana que ascendeu na alta sociedade parisiense.
“Ela era famosa por sua beleza, mas sempre vista como uma estrangeira”, observa Herdrich. Muitos desaprovavam a riqueza de sua família, construída em plantações trabalhadas por pessoas escravizadas. Pesquisas também revelaram sua proximidade com elites políticas francesas, alimentando ainda mais o ressentimento. Um jornalista chegou a reclamar que americanos como Sargent e Gautreau estavam roubando as honras e a atenção dos franceses.
Embora o decote revelador e a alça caída da pintura tenham causado indignação, o mesmo Salão exibia outras obras ousadas — muitas vezes justificadas como alegóricas. Para destacar esse duplo padrão, a exposição inclui reproduções de outras obras daquele ano, além de charges satíricas e críticas.
Também está em exibição *Madame Gautreau Brindando* (1882–1883), um esboço a óleo que hoje pertence ao Isabella Stewart Gardner Museum.
—David Mathews
*Pozzi em Casa, 1881. Óleo sobre tela. The Armand Hammer Collection, Doação da Armand Hammer Foundation. Hammer Museum, Los Angeles.*
Mesmo após a morte de Gautreau, os rumores persistiram. Nos anos 1950, um estudioso de Sargent afirmou que a socialite americana, casada com um banqueiro francês, teve um caso com seu ginecologista, Samuel-Jean Pozzi — tema do famoso retrato de Sargent com um manto vermelho (também presente em *Sargent e Paris*).
“Esse é um boato que eu realmente quero desmentir”, diz Herdrich. “Ambos os retratos são deslumbrantes e cheios de sensualidade, mas não há evidências sólidas do caso. Ao manter esse rumor vivo — muitas vezes exibindo os dois retratos próximos — corremos o risco de manchar a reputação de Madame Gautreau. Também prejudicamos o legado de Pozzi como um cirurgião inovador.”
Quando *Madame X* foi pintada, a modelo acreditou ser uma obra-prima. “Ela estava totalmente comprometida”, explica Herdrich. “Mas tanto ela quanto Sargent subestimaram como a sociedade reagiria.” Em uma carta ao diretor do Met ao vender a pintura, Sargent chamou *Madame X* de “a melhor coisa que já fiz”.
Embora sua fama tenha crescido apesar da controvérsia, Herdrich observa que, após *Madame X*, Sargent ficou “mais cauteloso em agradar seus patronos”. Isso torna suas obras anteriores algumas de suas mais ousadas e expressivas. “A arte de Sargent parece familiar hoje, mas na época, estava realmente expandindo os limites do retrato.”