Sophie Gilbert, escritora da equipe da The Atlantic, destacou-se cobrindo a cultura pop — de Madonna e Taylor Swift a The White Lotus e Severance — enquanto também foi finalista do Prêmio Pulitzer por sua crítica. Ela se tornou uma espécie de crítica cultural moderna para a era do TikTok.

Seu novo livro, Girl on Girl: Como a Cultura Pop Virou uma Geração de Mulheres Contra Elas Mesmas (lançamento em 29 de abril pela Penguin Press), revisita o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, examinando o que aconteceu com o feminismo no início do século XXI. Ao longo do caminho, ela explora como a cultura pop se entrelaçou com sexo, política, fama e moralidade nas últimas décadas.

Aqui, Gilbert fala sobre cultura, celebridade e encontrar esperança em tempos difíceis.

Vogue: O que despertou a ideia para este livro?
Sophie Gilbert: Dois momentos realmente se destacam. Primeiro, tive gêmeos em julho de 2020 em Nova York, no meio da COVID. Nos meses seguintes, me perdi completamente. Não conseguia ler ou assistir TV, mal dormia e estava exausta até para comer. Meu marido e eu cuidávamos daqueles bebês em total isolamento, e isso levou a uma espécie de colapso pessoal. Quando finalmente voltei ao trabalho e me reconectei com o mundo, voltei repetidamente a histórias sobre cultura e identidade — como a arte que consumimos molda quem somos, para o bem ou para o mal.

O segundo momento foi a revogação de Roe v. Wade em 2022. Eu não conseguia entender como as mulheres — a maioria nos EUA — podiam ter tão pouco poder. A única explicação que consegui pensar foi que a cultura pop nos embalou em passividade e distração.

Vogue: Você termina sua introdução com uma nota otimista: “Tentamos entender todas as maneiras pelas quais as coisas deram errado para que possamos conceber um caminho mais poderoso adiante.” Você realmente acredita que isso é possível?
Gilbert: Estamos em um momento de profunda turbulência, e é horrível o que está acontecendo com pessoas trans, imigrantes, refugiados e mulheres sob o atual governo. Mas, na maior parte, a cultura que consumimos não está reforçando esses ataques — está resistindo a eles.

Vogue: Você escreve sobre como as mulheres na música dos anos 1990 eram “irritantes, abrasivas e incrivelmente poderosas”, só para serem substituídas por “garotinhas”. Ainda estamos presos nesse ciclo?
Gilbert: Há tantas artistas mulheres hoje que se recusam a se limitar, mesmo quando são criticadas por isso. Sabrina Carpenter é atacada por ser sexual no palco — como se isso não fosse parte essencial de sua música desde que se tornou adulta. Chappell Roan é completamente sem filtro em entrevistas, explorando a sexualidade de uma forma que não atende às expectativas masculinas. Doechii sofre críticas apenas por expressar suas preferências amorosas. Essas mulheres enfrentam muitas críticas por serem honestas sobre quem são, mas não estão recuando — estão ganhando prêmios e esgotando ingressos. E não estão respondendo a nenhum homem em um escritório. Isso parece progresso.

Vogue: Você explora a tensão entre “garotas” e “mulheres” — amadurecimento versus experiência de vida. Quem acerta nessa distinção?
Gilbert: Quando se trata de adolescência feminina, há muitas representações brilhantes. Girlhood (2021), de Melissa Febos, é minha referência — ela captura o quão traiçoeiro crescer pode ser. Adoro Pen15, Lady Bird, de Greta Gerwig, e Chewing Gum, de Michaela Coel. Euphoria me deixou inquieta — há algo voyeurístico ali, mesmo tentando retratar o quão tóxico pode ser a adolescência feminina. Passamos muita coisa para a Geração Z. Acredito que as garotas de hoje estão muito mais conscientes e têm acesso a uma variedade maior de influências, além da linguagem para reconhecer e denunciar a misoginia. Mas também estão sob ataque constante nas redes sociais de maneiras que nunca experimentamos.

Por que tantos filmes dos anos 2000 — como Shallow Hal, Knocked Up, As Branquelas e Mente Aberta, Coração em Chamas — eram tão agressivamente anti-mulheres? Isso ainda acontece no cinema e na TV hoje?

Naquela época, os filmes mainstream não tinham interesse em retratar mulheres como algo além de coadjuvantes estúpidas ou irritantes para protagonistas homens desastrados. Mas, ultimamente, vimos tantas histórias envolventes sobre envelhecimento, padrões de beleza, desejo, luto, maternidade e a performance da feminilidade e do poder. Não que a indústria seja perfeita agora, mas definitivamente melhorou.

Você escreveu que “as mulheres que nossa cultura diz odiar mais são muitas vezes as que não conseguimos ignorar.” Pode explicar isso?

Tenho escrito sobre Kim Kardashian desde que comecei na The Atlantic, há mais de uma década. No início, sempre que escrevia sobre ela, recebia comentários e e-mails indignados me acusando de degradar a revista por dar atenção a esse “lixo”. Mas hoje Kim é, sem dúvida, a mulher mais influente do mundo — e chegou lá por ter uma compreensão quase sobrenatural do que as pessoas querem ver nela. Sempre ressentimos as mulheres que prendem nossa atenção: Anna Nicole Smith, Britney Spears, Paris Hilton, Madonna. Acho que parte dessa raiva vem da nossa própria frustração por sermos tão atraídas por elas. Homens como Kanye West ou Elon Musk também podem provocar reações negativas, mas não enfrentam o mesmo nível de descaso — a ideia de que nem merecem ser discutidos.

É impossível falar sobre como as mulheres são retratadas sem considerar a influência sempre presente da celebridade. Como isso evoluiu?

Essa foi uma das partes mais fascinantes da minha pesquisa — como a cultura das celebridades mudou nos anos 2000 e o que isso significou para o resto de nós. No século XX, as pessoas podiam ficar famosas nos tabloides sem nenhum talento real. Mas no século XXI, com revistas de fofoca e a internet famintas por conteúdo, mulheres dispostas a serem fotografadas, frequentar as festas certas ou deixar câmeras entrarem em suas vidas podiam alcançar fama apenas por serem vistas. Visibilidade virou uma carreira. O que mudou então — e ainda existe hoje — é a ilusão de que qualquer um pode ser famoso se seguir as regras. A verdadeira pergunta é: a que custo?

Esta conversa foi editada e condensada.

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