Há oito anos, o amigo de Jonathan Groff, Ted Chapin, o levou para assistir a Natasha, Pierre & The Great Comet of 1812 e depois para jantar no Orso. Durante o jantar, Chapin — que na época produzia a série “Lyrics and Lyricists” no 92nd Street Y — perguntou se Groff teria interesse em se apresentar em um show futuro com as músicas de Bobby Darin.
Essa pergunta levou Groff a mergulhar em um buraco de coelho no YouTube, assistindo a um clipe atrás do outro do cantor e compositor que desafiava gêneros. Criado na Pensilvânia, Groff já tinha ouvido sucessos de Darin como “Mack the Knife” e “Splish Splash”, mas não sabia que eram do mesmo artista — e não tinha certeza se conseguiria capturar a energia e versatilidade dele.
“Fiquei completamente impressionado com a ferocidade primal de Bobby, mesmo nesses clipes antigos em preto e branco”, Groff conta à Vogue. “Havia uma presença e paixão reais. Ele não era apenas um cara do rock-and-roll ou um crooner cantando canções. Havia uma conexão genuína em seu estilo de performance.”
Quando finalmente decidiu fazer o show, Groff começou a explorar sua própria conexão com Darin. Inspirado pela experiência imersiva de Natasha e pelo clima de boate de Here Lies Love no Public Theater, ele entrou em contato com o diretor Alex Timbers e começou a trabalhar no que se tornaria Just in Time, que estreou na Broadway na noite de quarta-feira no Circle in the Square Theatre.
Para se preparar para o papel, Groff — que ganhou um Tony pela aclamada remontagem de Merrily We Roll Along na última temporada — aprendeu a tocar bateria e piano e fez 10 semanas de aulas de dança com a coreógrafa Shannon Lewis, que estreou na Broadway com o espetáculo. Mas, diferentemente de um musical de jukebox tradicional, Just in Time não pede que Groff abandone seu próprio charme. Em vez disso, ele se apresenta como o artista que o público conhece e ama, alternando entre sua persona e a de Darin.
“Eu sabia que queria começar o show como eu mesmo e quebrar a quarta parede para criar aquela conexão pela qual Bobby era famoso — a sensação de que estamos todos juntos naquele momento, e tudo pode acontecer”, diz Groff. “Queria evocar esse caso de amor entre artista e plateia, e é daí que vem o coração do espetáculo.”
O sonho de Groff de reviver a era de ouro do Copacabana (a casa de shows favorita de Darin) ganhou vida na apresentação de quarta-feira. Sua melhor amiga, Lea Michele, sentou-se na frente, nas mesas de cabaré do teatro intimista no estilo boate, e até dançou com ele durante a chamada final. Ao redor dela estavam seus colegas de Merrily Daniel Radcliffe, Lindsay Mendez e Katie Rose Clarke, além de ex-colegas de Hamilton Lin-Manuel Miranda e Phillipa Soo. O after-party no Guastavino’s, no Upper East Side, reuniu convidados como LaChanze, Grey Henson e Kevin Cahoon, que dançaram a noite toda ao som de uma banda ao vivo com Donna Murphy.
Mas uma semana antes de tudo isso, Groff conversou com a Vogue sobre sua conexão com Bobby Darin. Abaixo, trechos editados da conversa.
Vogue: Houve algum momento específico durante sua imersão no YouTube que te convenceu de que poderia incorporá-lo?
Jonathan Groff: Tem um clipe dele cantando “Once Upon a Time” que lembro de assistir naquela noite — e nem chamaria de atuação, porque não parecia que ele estava performando. Era algo profundamente sentido. Ele não estava apenas cantando uma música em um programa de TV; estava comunicando algo profundo. Ver aquilo foi incrível. Depois, em seus últimos anos, ele fazia duetos com mulheres como Dusty Springfield e Petula Clark em seus especiais de TV, e elas… [o texto continua] sentavam-se em bancos e cantavam com os rostos próximos. Ele era tão íntimo e presente — lembro de ter ficado completamente envolvido por isso.
Se você fechar os olhos e ouvir, aonde essa música te leva?
Honestamente, parece mágico. Há uma citação no livro do filho dele, Dodd, sobre Bobby ser um animal dos nightclubs, no auge de seus poderes no palco, e performar essa música — especialmente em um ambiente tão íntimo — é realmente uma experiência transcendental. Tem outro clipe que adoro de Bobby e George Burns fazendo uma dança de areia em I Ain’t Got Nobody. Dá para ver a conexão entre suas gerações, e é lindo. Me lembra de Lady Gaga e Tony Bennett — como uma estrela pop moderna pode se conectar, respeitar e se inspirar em alguém de uma era anterior.
Quando tocamos essa música ao vivo, o som da nossa grande banda de jazz me transporta. Me leva a outro tempo, outro lugar. A energia é elétrica. Alguns membros da plateia cresceram com essa música, e você pode senti-los se entregando ao momento. Muitas vezes, quando começo a cantar certas canções — como Beyond the Sea —, a plateia explode em aplausos. É incrível ficar ali, cantando aquela música, sentindo que você está canalizando algo maior.
Mas então, algumas noites atrás, havia uma menina de oito anos na primeira fila, completamente hipnotizada. Por quê? Ela não cresceu ouvindo Dream Lover. Mas Bobby era obcecado pelo público, por ser o maior entertainer — há algo nessa música que a torna irresistível, seja você quem está performando ou apenas ouvindo.
Qual foi a experiência mais próxima que você teve daquela vibe clássica de boate, como o álbum da Barbra no Bon Soir, como plateia?
Aquele álbum é uma obsessão minha. Estou vivendo minha fantasia aqui — assistindo a aqueles clipes antigos da Barbra no The Judy Garland Show ou Dinah Shore, só ela, um cenário simples e uma música fenomenal, contando uma história. Era isso que Bobby fazia também. Para mim, isso é um sonho realizado.
O que você notou nas músicas que Bobby escreveu?
Elas são profundamente autobiográficas. Splish Splash foi ele correndo atrás de um hit — o rock and roll estava em alta na época. Dizem que ele estava na casa do DJ Murray the K quando a mãe de Murray ligou e disse: Tenho um título de música para o Bobby: ‘Splish splash, take a bath.’ Supostamente, Bobby escreveu essa música novidade em 15 minutos. No começo da carreira, ele escrevia jingles como um savant — conseguia sentar no piano e simplesmente criar canções.
Things é uma música animada sobre o término dele com Sandra Dee. 18 Yellow Roses dá uma pista sobre sua era folk, mas também é literal — ele mandava 18 rosas amarelas todo dia para a mãe de Sandra para conquistá-la antes de enviá-las para a própria Sandra. Rainin’ veio depois que ele descobriu um segredo de família [que a mulher que ele achava que era sua irmã era na verdade sua mãe, e sua avó o criou]. Ele frequentemente combinava temas sombrios e intensos com ritmos animados — como Mack the Knife. Esse contraste faz com que pareça perigoso e especial.
E depois tem Songs From Big Sur — nem parece ele. Foi seu momento Cowboy Carter, uma virada total de gênero. Dá para sentir muito dele ali.
Expressão e conexões culturais em evolução em sua música.
Não vejo muitos artistas lançando covers hoje em dia. Você acha que estamos perdendo algo com isso?
É um ponto interessante. O primeiro exemplo que me vem à mente é o cover de Adele para Make You Feel My Love, do Bob Dylan, mas você está certo — não é tão comum hoje. O que amo em Bobby Darin é como ele abraçou o passado e aspirou à grandeza. Ele se mergulhou no trabalho de lendas antes dele, e nosso show captura esse impulso.
Você vê essa mesma energia em artistas como Lady Gaga colaborando com Tony Bennett, ou Beyoncé homenageando Diana Ross (Love Hangover na turnê Renaissance) e Etta James. Até sua performance de The Way We Were no tributo a Barbra Streisand no Kennedy Center foi poderosa. É emocionante quando artistas modernos honram os grandes enquanto fazem algo próprio. Veja Sabrina Carpenter compartilhando aquele momento com Dolly Parton — ainda há uma centelha dessa reverência hoje.
É isso que buscamos com Bobby Darin. Não queríamos um biopic que parecesse uma peça de museu. Deveria parecer vivo, não nostálgico. A interpretação de Gracie Lawrence como Connie Francis é um exemplo perfeito — ela não está imitando, mas honrando sua essência enquanto traz seu próprio talento atemporal. Esse equilíbrio é fundamental para o tom do espetáculo.
Interpretar um entertainer com uma conexão profunda com o público — este é seu papel mais carismático até agora?
Eu queria trazer meu próprio eu para isso. Desde o início, o projeto exigia isso. A voz de Bobby Darin mudava constantemente — ele era um camaleão, o que nos permite abordar sua história de forma teatral e expressiva. Sua vida foi marcada por urgência; ele tinha um problema cardíaco, ficava entrando e saindo de hospitais e morreu aos 37 anos. Essa intensidade tornava suas performances transcendentais.
O que mais importava não era o estilo ou a música, mas a magia que ele criava no momento. Até Mack the Knife soava diferente cada vez que ele cantava, mas era inconfundivelmente dele. É isso que estou canalizando: ao me conectar comigo mesmo, estou honrando o espírito de Bobby e o presente. A plateia não está apenas assistindo a uma recriação de um show no Copa de 1959 — eles são parte da experiência aqui e agora, no Circle in the Square em 2025, vivendo sua história conosco.
(Foto: Matthew Murphy e Evan Zimmerman)