**Das ruas repletas de barbearias em Birmingham, Alabama, às históricas lojas do West Side de Chicago, as alfaiatarias negras sempre foram guardiãs do patrimônio cultural.** Esses negócios familiares — muitos em operação há gerações — são mais do que lugares para ajustar calças ou adaptar um paletó; são centros de tradição, artesanato e comunidade. A alfaiataria negra, como arte e vocação, vestiu gerações para cultos dominicais, primeiros empregos, protestos e formaturas. Ao longo dos anos, esses alfaiates não costuraram apenas tecidos, mas legados.

Enquanto o Metropolitan Museum of Art se prepara para inaugurar a exposição do Instituto de Costume **Superfine: Tailoring Black Style** e o Met Gala de 2025 — inspirados pelo livro revolucionário da acadêmica Monica L. Miller, **Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity** —, não há momento melhor para celebrar os artesãos por trás das costuras: os alfaiates negros que vestiram suas comunidades em todas as ocasiões, desde movimentos históricos até o cotidiano.

A alfaiataria negra é uma tradição enraizada na resistência, no cuidado e na habilidade — que remonta à escravidão. Em **Slaves to Fashion**, Miller explora como pessoas escravizadas remodelavam as roupas que lhes eram impostas para afirmar individualidade e dignidade. Elas enfeitavam peças com tecidos reaproveitados, pegavam emprestado secretamente roupas mais refinadas de seus senhores e criavam economias clandestinas de vestuário para melhorar sua aparência ou passar por livres. Esses primeiros atos de desafio sartorial lançaram as bases da alfaiataria negra como a conhecemos hoje — tanto um ofício quanto uma declaração cultural.

Por séculos, as comunidades negras usaram o estilo como meio de sobrevivência, orgulho e autoexpressão. Em cidades como Detroit, Chicago e Birmingham, as alfaiatarias foram centrais nessa evolução. De Elizabeth Keckley, que costurou seu caminho até a Casa Branca, a Warren Clay Coleman, que fundou a primeira fábrica de algodão de propriedade negra em 1899; da Stops Cleaners no sul de Los Angeles, onde Jeffrey e Delores Elam criaram looks para The Whispers, à Orie Walls Custom Tailoring no Harlem — mãos negras moldaram a alfaiataria americana. Seja confeccionando um terno listrado impecável para a formatura ou ajustando uma simples bainha, esses alfaiates vestiram suas comunidades com precisão, orgulho e propósito.

A seguir, a **Vogue** visita as lojas de mestres alfaiates negros pelo país para explorar o que significa preservar a tradição, aprimorar o ofício e manter vivo o legado da alfaiataria negra — e do dandismo.

**Robert Hill: Robert Hill Custom Tailors, Birmingham**
Em Birmingham, Robert Hill é um pilar da alfaiataria negra há mais de 40 anos. Desde que abriu sua loja em 1983, ele vestiu gerações de homens para a igreja, Páscoas, casamentos e celebrações. *”Meus pais nos levavam à igreja, e foi ali que me apaixonei por ternos”*, Hill conta à **Vogue**. Sua jornada na alfaiataria começou por necessidade — *”Sou baixo e tenho cintura fina, nunca encontrava roupas que servissem”* —, mas logo se tornou seu trabalho vitalício, refinado com treinamento sob mestres alfaiates nos anos 1960. Hoje, sua assinura está na precisão e paciência. *”Um bom terno começa com tecido de qualidade e artesanato”*, diz ele, um padrão que persiste apesar das tendências. Em tempos econômicos difíceis, quando muitas lojas fecharam, o foco de Hill em ajustes o manteve ativo: *”As pessoas não compravam roupas novas — traziam o que já tinham. Foi isso que me sustentou.”*

**Foto: Cortesia de Robert Hill Custom Tailors**

Além da máquina de costura, o trabalho de Robert Hill representa uma preservação silenciosa da elegância e autoapresentação negra no Sul. Sua alfaiataria encarna uma forma de dignidade enraizada não apenas no caimento e no corte, mas no cuidado. *”Alfaiataria é uma arte perdida”*, reflete. *”Os jovens não têm paciência. Leva tempo para aprender isso.”*

Embora 75 a 80% de seu negócio venha de ajustes, Hill ainda oferece ternos sob medida, selecionando tecidos com cuidado, ajustando moldes e aperfeiçoando cada design para seus clientes. Em um campo com poucos sucessores, ele mantém os valores da tradição, disciplina e legado. *”Esse trabalho ensina a desacelerar, a ser paciente”*, diz. Em um mundo da moda dominado por tendências rápidas, Hill permanece comprometido com um ofício mais lento e deliberado.

**Tony Stovall e Cliff Green: Hot Sam’s Detroit**

Em Detroit, o legado do dandismo negro prospera no Hot Sam’s, a mais antiga loja de roupas masculinas de propriedade negra da cidade — um marco da comunidade há mais de 100 anos. Cliff Green e Tony Stovall, donos da loja há 31 anos, veem a alfaiataria não apenas como um ofício, mas como uma vocação.

*”Somos mais que vendedores; somos mentores”*, Green diz à **Vogue**. Mestre alfaiate desde 1967, ele trata cada ajuste como *”uma espécie de cirurgia”*. Sua paixão começou no ensino médio, ao ver jovens negros costurando seus futuros no tecido. *”Naquele momento, eu soube — tinha que fazer aquele curso de alfaiataria”*, lembra. Para Green, um ótimo terno se resume a tecido, artesanato e detalhes — o que eleva uma peça de boa a excepcional.

Mas, para ele, alfaiataria vai além da técnica — é sobre precisão, cuidado e memória cultural. *”Quando costuro, penso em como a peça deve se mover, caber e sentir no homem. Tem que significar algo.”* Ao longo dos anos, ele vestiu gerações para casamentos, formaturas e primeiros empregos, incutindo orgulho e presença. *”Ensinamos a manter a postura, a apertar a mão de um homem, a se portar.”*

Para Tony Stovall, o Hot Sam’s é um santuário onde o estilo encontra propósito. *”Comprei a loja para que jovens negros se vissem como donos”*, diz. *”Todos temos valor, mas muitas vezes não nos dizem isso. Queria que este lugar gritasse isso.”* Sua própria jornada começou quando seu pai o trouxe aqui para seu primeiro terno de verdade — um rito de passagem que agora ele repassa.

No Hot Sam’s, um terno é mais que tecido — é uma lição de confiança e autorrespeito. *”Falamos de mais que roupas”*, diz Stovall. *”Perguntamos sobre notas, planos, saúde. Investimos neles.”* Sobrevivente de câncer de próstata, ele usa a loja como espaço para discutir o que os homens negros carregam e o que precisam. *”Aqui, homens negros vêm para serem vistos, ouvidos e estilizados. Não os vestimos apenas para o momento — os vestimos para o mundo.”*

**Joseph Caldwell: TailoRite Cleaners, Chicago**

No South Side de Chicago, a TailoRite Cleaners tem sido uma tábua de salvação para a comunidade negra por quase sete décadas. Fundada em 1956 pelo veterano da Guerra da Coreia Joseph Caldwell, o negócio nasceu de necessidade e visão.

*”Voltei do exterior sem habilidades profissionais”*, Caldwell conta à **Vogue**. *”Ofícios eram recomendados, e a alfaiataria me chamou.”* Ele se matriculou em um programa de 18 meses pelo GI Bill e abriu sua loja com outros veteranos — homens negros determinados a construir algo próprio em uma cidade que lhes oferecia poucas oportunidades. Embora ternos sob medida fossem o foco inicial, logo perceberam que a maioria de seus clientes negros em Chicago precisava mais de reparos especializados do que de peças caras feitas sob medida.

*”Percebemos rápido que poucos compravam ternos de US$ 500, mas precisavam de um zíper trocado ou uma bainha ajustada. Foi assim que sobrevivemos”*, diz Caldwell. O que manteve a TailoRite próspera não foi apenas habilidade — foi a comunidade. Quando grandes bancos negaram empréstimos, o Seaway Bank, de propriedade negra, interveio. *”Eles acreditaram em nós”*, diz Caldwell. *”E nossos clientes também.”*

Aos 92 anos, Caldwell ainda vai à loja, trabalhando com sua família para manter o ofício vivo. *”Amamos nosso povo, e eles foram bons conosco”*, diz. *”Não faz sentido jogar fora um terno de US$ 1.000 se pode ser ajustado para caber de novo.”* Em 1987, ele mudou a loja para seu endereço atual, apesar de quem duvidava do investimento em um bairro negro. *”Mas eu acreditava em nós”*, diz. *”E eles continuaram aparecendo.”* A TailoRite prova que, quando comunidades negras investem em si mesmas, estilo e tradição não apenas sobrevivem — prosperam.

**A História de Betty Grimes**

Em uma loja discreta em St. Louis, Betty Grimes, de 75 anos, passou os últimos 21 anos mantendo viva a tradição de ajustes e reparos. *”Nunca anunciei — as pessoas simplesmente vieram”*, diz ela sobre a Betty’s Alterations & Tuxedo, sua loja escondida. Grimes começou a aprimorar suas habilidades aos 21 anos, costurando bainhas para clientes na loja de roupas masculinas de seu padrinho Roszell Johnson, uma das primeiras de propriedade negra da cidade. Décadas depois, ela ainda usa a mesma máquina de costura daquela época.

*”Só quero que as pessoas fiquem com sua melhor aparência”*, diz, *”especialmente nossos homens negros.”* Com precisão, ela ajusta mangas e bainhas com o mesmo cuidado que usa para incutir confiança em seus clientes.

Grimes vestiu gerações inteiras — formandos, padrinhos, membros de fraternidades e até seus próprios netos, que usaram ternos que ela ajustou para entrevistas de emprego e faculdade. *”Não há nada mais importante que eu poderia ter comprado”*, diz, acrescentando que sua loja ajudou a pagar os estudos de seus netos. *”Por isso nunca realmente me aposentei.”*

Ela está entre os poucos alfaiates negros que restam, preservando a arte de se vestir bem — uma vocação que a enche de orgulho. *”Quando digo que abro às 9, estou aqui às 9″*, diz. *”Foi o que aprendi com meu padrinho. Especialmente em negócios negros — seja pontual, faça direito.”* Em suas mãos, cada ajuste é um ato de cuidado, uma continuação da tradição sartorial negra e uma resistência silenciosa ao esquecimento.